Introdução: A hipertensão arterial sistêmica é acompanhada de prejuízos na regulação autonômica cardiovascular, entre esses a redução na modulação autonômica da variabilidade da frequência cardíaca (VFC), aumento na modulação simpática da variabilidade da pressão arterial (VPA) e menor sensibilidade barorreflexa são frequentemente observadas. Esses prejuízos podem ser ainda mais severos se o paciente tiver sido acometido pela COVID-19, uma vez que existem relatos que essa doença infecto-inflamatória parece também causar perturbações na regulação autonômica. Objetivo: Investigar os efeitos tardios da COVID-19 sobre os parâmetros hemodinâmicos e autonômicos cardiovasculares em voluntários hipertensos. Métodos: 87 homens, de 35 a 55 anos foram distribuídos em dois grupos: hipertensos acometidos pela forma leve da COVID-19 há mais de 6 meses (N=47); hipertensos não infectados pela COVID- 19 ou assintomáticos (N=40). Os participantes foram submetidos aos seguintes procedimentos experimentais: avaliação antropométrica;registros da frequência cardíaca e pressão arterial para análise do controle autonômico cardiovascular; avaliação da aptidão cardiorrespiratória por meio da ergoespirometria. Resultados: Os grupos apresentaram diferenças apenas nos parâmetros hemodinâmicos, onde o grupo HAS-COV obteve maiores valores de pressão arterial sistólica (122 ± 14 vs. 128 ± 10 mmHg – p=0,010). Nas análises da VFC, o grupo HAS-COV apresentou maiores valores de RMSSD (22 ± 9 vs. 35 ± 17 ms – p<0,001), SDNN (34 ± 12 vs. 50 ± 17 ms – p<0,001), variância (1322 ± 858 vs. 2670 ± 1854 ms² – p<0,001), oscilações de baixa frequência (LF; 374 ± 272 vs. 795 ± 603 ms² – p<0,001) e oscilações de alta frequência (HF; 184 ± 128 vs. 445 ± 410 ms² – p<0,001). Por sua vez, as análises não lineares revelam que os valores de 0V foram significativamente maiores no grupo HAS-COV (32 ± 13 vs. 38 ± 12 % – p=0,034), assim como maiores valores de SD1 (15 ± 6 vs. 25 ± 12 ms – p<0,001) e SD2 (31 ± 12 vs. 45 ± 15 ms – p<0,001) no gráfico de Poincaré, além de maiores valores de ApEn (1,3 ± 0,1 vs. 1,5 ± 0,1 – p<0,001). Na análise da SBR, o grupo HAS-COV teve maiores valores de ganho total (6,6 ± 2,4 vs. 9,7 ± 4,2 ms/mmHg – p<0,001), nas respostas bradicárdicas (6,8 ± 2,4 vs. 9,4 ± 3,9 ms/mmHg – p<<0,001) e respostas taquicárdicas (6,5 ± 2,5 vs. 9,9 ± 4,7 ms/mmHg – p<0,001). Conclusão: Os resultados sugerem que pacientes hipertensos acometidos pela Covid-19 apresentam em longo prazo aumento da modulação vagal cardiovascular. No entanto, a causa é incerta e necessita de mais investigações.