INTRODUÇÃO:
Endocardite infecciosa (EI) é um grande problema de saúde pública, com incidência mundial estimada de 13,8 casos por 100.000 pessoas por ano. Entretanto, EI associada à valva nativa é incomum, acometendo cerca de 2 a 10 pessoas por 100.000 pessoas por ano. Devido dificuldade diagnóstica e baixa suspeição clínica em alguns cenários, ainda apresenta elevada taxa de morbimortalidade, com cerca de 0,87 mortes a cada 100.000 habitantes.
RELATO DE CASO:
Homem, 68 anos, hipertenso, dislipidêmico, ex-tabagista e com dentes em mau estado de conservação foi admitido em hospital terciário do estado de São Paulo por lombalgia progressiva há 12 dias, associada a paresia de membros inferiores com dificuldade de marcha, retenção fecal, jato urinário fraco e três episódios de febre. À admissão, foi submetido a uma tomografia computadorizada de coluna lombar que evidenciou uma coleção líquida em músculo psoas direito ao nível de L4-L5, sugerindo abscesso de psoas. Prontamente foram coletadas hemoculturas e iniciada antibioticoterapia empírica e, cerca de 12 horas após, hemoculturas evidenciaram crescimento de Staphylococcus aureus sensível à meticilina. Foi aventada a hipótese de EI como foco emboligênico séptico, posteriormente confirmada com a realização de ecocardiografia transesofágica com achado de eco anômalo móvel de 4,3 x 2,5 mm em valva aórtica. O paciente foi submetido a drenagem percutânea por radiointervenção do abscesso em músculo psoas e manteve regime antimicrobiano com Oxacilina por 6 semanas, com melhora completa dos sintomas e resolução da EI. Além disso, foi indicado acompanhamento com odontologista para manutenção de saúde bucal adequada para prevenção de recorrência do quadro.
CONCLUSÃO:
O caso descrito evidencia um paciente com dor lombar com sinais de alarme que, durante investigação, foi diagnosticado com abscesso de psoas e hemoculturas positivas para germe típico. Apesar de não preencher critérios diagnósticos e de alto risco para EI à admissão, o paciente foi corretamente investigado e tratado precocemente devido alta suspeição clínica, possibilitando completa recuperação sem limitações funcionais. O caso reforça a importância da educação médica continuada sobre um tema que, apesar de muito discutido na literatura, ainda permanece subdiagnosticado.