INTRODUÇÃO: O transplante cardíaco representa uns dos ápices em termos de densidade tecnológica e está associado a custos elevados no tratamento de casos graves e de alto risco. Os fundamentos teóricos deste estudo integram conceitos de Bioética, Tecnociência, Saúde Pública e Psicologia Hospitalar, destacando o Pentágono da Beira do Leito como uma estrutura que ilustra a interação entre tecnologia, profissionais de saúde, pacientes, instituição e sistema de saúde. OBJETIVO: Analisar as perspectivas de profissionais de saúde de diferentes áreas de formação sobre as implicações bioéticas do uso da tecnologia no contexto do transplante cardíaco. MÉTODO: Estudo exploratório qualitativo em um hospital público especializado em Cardiologia com 15 profissionais de sete categorias. Entrevistas semi-estruturadas foram conduzidas, gravadas e analisadas pelo método hermenêutico-dialético. RESULTADOS: A percepção dos profissionais se restringe às tecnologias materiais (equipamentos e aparelhos). A autonomia do paciente foi considerada multideterminada no processo de consentimento por fatores físicos, riscos/benefícios ambíguos e aspectos emocionais. A avaliação para transplante cardíaco foi centrada na equipe médica, com a exclusão das categorias profissionais Farmácia e Fisioterapia. A abordagem multiprofissional foi marcada por fragmentação, dificultando o contato direto com o paciente. Na discussão, cinco categorias emergiram: 1. o potencial de beneficência da tecnologia em contraste com desafios para a realização prática de benefícios; 2. a importância da autonomia do paciente e do consentimento informado; 3. a necessidade de empatia, transparência e tolerância na comunicação entre profissionais e pacientes; 4. a movimentação do paradigma em saúde de ênfase na sobrevivência para busca de qualidade de vida e; 5. a valorização da equipe multiprofissional para o equilíbrio de tecnologias materiais e relacionais (anamnese, exame físico, trabalho em equipe) a fim de promover uma abordagem mais humanizada e centrada no paciente. CONCLUSÕES: A tecnologia subentende beneficência e maleficência exigindo expertise para a indicação e aplicação adequadas a fim de proporcionar mais realização de benefício e não-malefício do transplante cardíaco. A aplicação de tecnologia associa-se ao risco de tecnicismo, de modo que requer treinamento e atualização continuadas e o reforço de uma visão integrada expressa pelo Pentágono da Beira do Leito.