Introdução: A adesão de pacientes ao tratamento da doença arterial coronariana (DAC) é essencial para prevenir eventos agudos, reduzir a mortalidade e melhorar sintomas. Porém, complexidade terapêutica, comorbidades e baixo letramento funcional em saúde podem impactar a adesão à farmacoterapia. Assim, este estudo se propõe a avaliar se nesses casos a complexidade da terapia é alta a ponto de justificar a orientação farmacêutica. Métodos: Estudo retrospectivo, observacional, com prescrições de pacientes que receberam alta das enfermarias de Coronariopatia Crônica e Aterosclerose de um hospital terciário especializado em Cardiopneumologia em São Paulo, entre agosto e outubro de 2023. As prescrições analisadas foram classificadas por quantidade de medicamentos (1 a 5, 6 a 10, e 11 ou mais), sexo e idade do paciente; a complexidade terapêutica foi avaliada através da ferramenta Índice de Complexidade da Farmacoterapia (ICFT). Aplicou-se o teste de Shapiro-Wilk para avaliar a normalidade da distribuição da amostra. Resultados: Avaliaram-se 48 receitas de alta de 33 pacientes do sexo masculino (68,75%) e 15 do sexo feminino (31,25%) com média de idade de 63,2 anos [desvio-padrão (DP) = 9,32; mínimo: 40 anos; máximo: 82 anos]. As prescrições continham, em média, 9,27 medicamentos (DP = 2,92); o ICFT médio foi de 23,72 pontos (DP = 9,48), com mínimo de 8,50 (1 prescrição com 5 medicamentos) e máximo de 43,00 (4 prescrições, com 12–14 medicamentos). O ICFT médio foi de 10,80 (1–5), 19,96 (6–10) e 34,09 pontos (≥ 11 medicamentos). Houve diferença no ICFT de prescrições com número de medicamentos igual. O teste ANOVA de duas vias mostrou correlação entre a quantidade de medicamentos em uso e o ICFT calculado (p < 0,001), mas não entre sexo e ICFT da prescrição, bem como não apresentou correlação entre o ICFT e a interação quantidade de medicamentos e sexo do paciente. Tampouco foi demonstrada correlação entre idade e ICFT ou deste em relação à interação idade e quantidade de medicamentos. A análise post-hoc de Sidak revelou que a quantidade de medicamentos prescritos aumentou o ICFT dos participantes do sexo masculino; entretanto, não houve diferença estatisticamente significativa entre as prescrições das pacientes do sexo feminino classificadas em 1–5 e 6–10 medicamentos, apenas destas quando comparadas às prescrições com ≥ 11 medicamentos. Conclusão: A alta complexidade terapêutica das prescrições de pacientes com DAC, especialmente elevada nas com 11 ou mais medicamentos, justifica o emprego da orientação farmacêutica visando ao aumento da adesão medicamentosa.