Introdução: O uso do balão intra-aórtico (BIA) como terapia de ponte para o transplante cardíaco (Tx) em pacientes com insuficiência cardíaca (IC) avançada permanece em debate. O uso do BIA não se restringe ao choque cardiogênico pós infarto agudo do miocárdio e sua utilização como ponte para o Tx é uma perspectiva crescente. Objetivo: Avaliar os efeitos hemodinâmicos do BIA e sua eficácia em pacientes com IC avançada aguardando Tx. Métodos: Foram analisados, retrospectivamente, a partir de uma unidade de terapia intensiva de um centro terciário único, entre 2009 e 2020, pacientes com IC avançada com drogas vasoativas em doses otimizadas que necessitaram de passagem de BIA antes do Tx. Avaliaram-se variações da saturação venosa central de oxigênio (SVO2), lactato arterial, creatinina, débito urinário e uso de drogas vasoativas antes e 96 horas após a inserção do BIA. Pacientes com infarto agudo do miocárdio e implante de outros dispositivos de assistência ventricular mecânica antes do Tx foram excluídos. Resultados: Foram incluídos 199 pacientes (idade média de 46,5 ± 12 anos). A mediana do tempo de uso do BIA até o Tx foi de 20 dias. A fração de ejeção média do ventrículo esquerdo foi de 23,5 ± 5,9%, 53,7% dos pacientes apresentavam disfunção ventricular direita moderada a grave e a etiologia mais frequente foi doença de Chagas (47,2%, n=94). Antes da passagem do BIA, 97,47% dos pacientes estavam em uso de dobutamina, 19,29% de milrinone, 58,08% de nitroprussiato de sódio e 17,7% de noradrenalina. Os dados clínicos e laboratoriais foram comparados antes e 96 horas após a inserção do BIA. A SVO2 aumentou de 49,9% para 66,85% (p<0,001), o lactato reduziu de 21,91 mg/dl para 12,6 mg/dl (p<0,001), a creatinina reduziu de 2,04 mg/dl para 1,72 mg/dl (p=0,301) e o débito urinário aumentou de 1690,12 ml/24h para 2193,12 ml/24h (p<0,001). Essas diferenças foram mantidas até a véspera do Tx. O uso de nitroprussiato de sódio aumentou de 58,08 para 63,59% dos pacientes (p=0,154), e o uso de noradrenalina reduziu de 17,7% para 6,63% dos pacientes (p<0,001). Conclusão: O BIA melhora a perfusão tecidual e o estado hemodinâmico de pacientes com IC avançada e pode ser considerado um dispositivo eficaz como terapia de ponte para o Tx.