Introdução: As taquicardias fetais foram descritas pela primeira vez por Hyman et al. em 1930 como uma anormalidade cardíaca que pode ser identificada durante a gestação por meio do fonocardiograma, sendo o flutter atrial uma das que mais ameaça o prognóstico fetal. Tal patologia pode ser definida como uma taquiarritmia supraventricular que se origina de um circuito macroreentrante quase sempre no átrio direito, gerando atividade elétrica atrial contínua. Ademais, os fetos apresentam-se com taxas de até 500 batimentos/minuto, assim como o ritmo de resposta variável devido aos diferentes graus de bloqueio atrioventricular que podem estar associados. A exemplo do bloqueio atrioventricular (BAV) de 2o grau, a frequência cardíaca fetal não responde de forma regular 1:1 à atividade atrial fetal. Diante da confirmação pelo ecocardiograma fetal, a Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia recomenda o tratamento com administração materna de sotalol, o qual apresentou taxa de conversão de 50 a 80% para ritmo sinusal e sem mortalidade. Outrossim, pode-se utilizar outras drogas como digoxina e amiodarona. Logo, o tratamento deve ser particularizado e a tendência do flutter atrial fetal é de não se repetir após sua reversão.
Relato de caso: Primigesta, 21 anos, sem patologias prévias, feto único feminino, foi diagnosticada com taquicardia fetal com 33 semanas e 2 dias. A confirmação da taquiarritmia foi realizada após ecocardiograma fetal com doppler colorido (eco-Doppler fetal), no qual foi constatado flutter atrial com bloqueio atrioventricular 2:1, com frequência atrial de 360 bpm. Nessa ocasião, foi iniciado o tratamento com a administração materna de propranolol e digoxina. Para reavaliação e acompanhamento foi realizado ecodoppler fetal com 33 semanas e 6 dias, sendo constatado ritmo cardíaco de 148 bpm. Considerando a melhora do padrão, a medicação foi suspensa. Foi realizado parto cesariana, com nascimento da criança em bom estado geral, pesando 2780 gramas, adequado para idade gestacional, Apgar 10/10. Recém-nascido recebeu alta hospitalar com três dias de vida, estável clinicamente, em acompanhamento com cardiopediatria.
Conclusões: O flutter atrial é incomum na população pediátrica e está associado à morbidade significativa. Logo, as alterações da frequência cardíaca na ausculta fetal devem levantar suspeita clínica que pode ser confirmada pelo eco-Doppler fetal. Este relato evidencia a importância de uma assistência pré-natal de qualidade para o diagnóstico e tratamento precoce dessa patologia, o que é crucial para o melhor prognóstico possível.