Introdução: O objetivo deste estudo foi investigar o papel do período do tamponamento isocápnico, representado pela diferença entre o consumo de oxigênio (VO2) no ponto de compensação respiratória e o limiar anaeróbio, como preditor de eventos cardíacos em pacientes com insuficiência cardíaca e fração de ejeção reduzida (ICFEr). Métodos: neste estudo de coorte prospectivo incluímos pacientes com ICFEr (fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) < 40%), níveis I, II ou II pela classe funcional da New York Heart Association. Foram realizadas as seguintes avaliações: teste cardiopulmonar, teste da caminhada de seis minutos (TC6M), força muscular, qualidade de vida e marcadores cardiovasculares. Por meio de busca em prontuário e ligações telefônicas os pacientes foram acompanhados no decorrer de 48 meses quanto à ocorrência de eventos cardíacos (hospitalização e morte por causa cardíaca). Resultados: Setenta e três pacientes (~ 58 anos, 73% do sexo masculino, FEVE=31%) foram incluídos no estudo. Dentre eles, 17 apresentaram eventos cardíacos (~59 anos, 76% do sexo masculino, FEVE=29%, 53% de etiologia isquêmica, 24% com fibrilação atrial) e 56 não tiveram eventos cardíacos no tempo de seguimento (~58 anos, 71% do sexo masculino, FEVE=31%, 43% de etiologia isquêmica, 2% com fibrilação atrial). Os dois grupos (eventos cardíacos e sem eventos) apresentaram resultados similares quanto ao VO2 pico (p=0,597), distância percorrida no TC6M (p=0,186), força muscula inspiratória (p=0,351), força isométrica do músculo quadríceps (p=0,059), e nível do peptídeo natriurético tipo B - BNP (p=0,746). Na análise multivariada de Cox, observamos que o aumento de uma unidade no delta VO2 (mL/kg/min) durante o período do tamponamento isocápnico reduz o risco de hospitalização e óbito por causas cardíacas em 27% (p=0,034), a única medida preditora independente de eventos cardíacos entre todas as analisada em nosso estudo. Além disso, por meio da curva de Kaplan-Meier e teste de log-rank observamos que escores 2 durante o período do tamponamento isocápnico reduz o risco de hospitalização e óbito por causas cardíacas em pacientes com ICFEr em 48 meses de seguimento. Ademais, a avaliação da qualidade de vida auto reportada é uma ferramenta interessante para acompanhar indiretamente o status funcional e a possibilidade de eventos cardíacos no decorrer do tempo em pacientes com ICFEr.