Introdução: Bebidas energéticas têm sido associadas a algumas complicações cardiovasculares, como arritmias, dissecção de coronárias ou de aorta, Takotsubo e vasoespasmo. Alguns relatos também associaram o uso dessa bebida com a ocorrência de trombose coronária, manifestada como infarto agudo do miocárdio (IAM). O mecanismo exato ainda não é conhecido, porém é de interesse, já que o consumo dessas substâncias vem aumentando nos últimos anos, principalmente entre os jovens. Relatamos um caso de paciente jovem com IAM após consumo de energético.
Relato de caso: Paciente homem de 28 anos, sem antecedentes patológicos, sem história de tabagismo ou história familiar de doença coronária, procurou atendimento médico por dor restroesternal em queimação/aperto, irradiada para membro superior esquerdo, de intensidade 8/10. A dor iniciou quando já estava em repouso, após jogar futebol por 2 horas e meia e ter ingerido 500ml de energético. À chegada, apresenta pressão arterial 142x92mmHg, frequência cardíaca 81bpm, saturação de oxigênio 97%, ausculta cardíaca e pulmonar sem alterações. O eletrocardiograma mostrou inversão de onda T em V5, V6, D1 e aVL e a troponina inicial foi de 1,81 (VR 0,034ng/mL). O paciente foi encaminhado para cateterismo, que mostrou imagem de trombo em artéria descendente anterior, sem placa aterosclerótica. Ecocardiograma mostrou fração de ejeção do ventrículo esquerdo de 57% e ausência de alteração segmentar. Foi optado por anticoagulação por uma semana e novo exame mostrou resolução do trombo, sendo o paciente mantido então com rivaroxabana. A investigação de trombofilias se mostrou negativa.
Discussão: o consumo de energéticos é cada vez maior em todo o mundo, principalmente entre apopulação mais jovem. A substância mais estudada é a cafeína, que não é associada a trombose. Outras substâncias que compõem a bebida, como taurina, glucoronolactona e vitaminas podem estar envolvidas, porém o mecanismo ainda não é totalmente conhecido. As alterações associadas com a trombose parecem ser aumento da agregação plaquetária e disfunção endotelial e é difícil reconhecer qual a substância diretamente envolvida. Assim, mais estudos sobre o assunto são necessários visto que a bebida é amplamente utilizada pela população jovem e pode levar a consequências graves.