Introdução: Cistos pericárdicos (CP) são tumores mediastinais raros e benignos, com incidência estimada de 1:100.000, correspondendo a aproximadamente 6 a 7% das massas mediastinais. Geralmente assintomáticos, podem estar associados a sintomas como dispneia e dor torácica, por compressão de estruturas adjacentes. Apresentamos o caso de uma paciente com cisto pericárdico exercendo efeito compressivo sobre o ventrículo direito.
Relato de caso: Mulher de 68 anos, hipertensa e diabética, iniciou quadro de fadiga aos moderados esforços há 3 anos, sem piora progressiva. Não apresentava sinais de congestão sistêmica ou pulmonar em exame físico. Eletrocardiograma em ritmo sinusal e duas extrassístoles ventriculares isoladas de mesma morfologia. Holter com baixa carga de ectopias ventriculares (3,8% dos batimentos). Dopplerecocardiograma (DEC) demonstrou estrutura hipoecoica compatível com CP medindo 6 cm em seu maior diâmetro gerando compressão em parede livre do VD e região subpulmonar, sem aceleração do fluxo ao doppler (figura 1). Mobilidade segmentar de ventrículo esquerdo e desempenho sistólico de ambos ventrículos preservados. Ressonância Magnética Cardíaca (RMC) evidenciou CP medindo 5,4 x 4,0 cm exercendo efeito compressivo sobre o ventrículo direito, com redução volumétrica do ventrículo direito significativa na diástole ventricular por compressão (figura 2).
Figura 1 – Cisto pericárdico (CP) medindo 6 cm gerando compressão de VD na diástole.
Figura 2 – Imagem de RMC evidenciando cisto pericárdico (CP) determinando compressão mais evidente do ventrículo direito(VD) na diástole.
Discussão/Conclusão: Nos casos de pacientes sintomáticos com CP com características compressivas, levando a comprometimento hemodinâmico e/ou ventilatório, é indicado intervenção e sua remoção. A primeira escolha de tratamento é via aspiração percutânea. A ressecção cirúrgica pode ser necessária quando há dúvida diagnóstica pelos métodos de imagem ou recorrência do cisto após tentativa de drenagem. O tratamento conservador é adotado nos casos assintomáticos, dado que no seguimento a longo prazo estes não costumam desenvolver sintomas. No caso apresentado, por paciente pouco sintomática (NYHA II) e ausência de repercussão hemodinâmica, decidiu-se por abordagem conservadora, orientação à paciente sobre sinais e sintomas de alarme e DEC anual, com RMC em caso de sintomas ou alteração no DEC.