Introdução: O Brasil experienciou diferentes ondas e contextos epidemiológicos da COVID-19, apresentando altas taxas de mortalidade nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI), porém os fatores associados ao óbito desses graves pacientes carecem de estudos robustos e com grande poder amostral.
Objetivo: Avaliar os fatores independentes associados ao óbito de pacientes graves com COVID-19.
Métodos: Coorte retrospectiva de pacientes de UTI infectados com SARS-CoV-2 com seguimento de 30 dias, entre março de 2020 e abril de 2021 em um hospital universitário em São Paulo. Variáveis sociodemográficas, clínicas e laboratoriais nas 24 horas e no 7° dia de internação foram avaliadas. A amostra foi dividida em 2 grupos (óbito ou sobrevida). As análises univariáveis foram realizadas por regressão logística. Para o modelo multivariável, as variáveis com p<0,2 foram elencadas e o método Stepwise modalidade backward foi empregado para definição das variáveis do modelo final. O modelo final foi ajustado com interações significativas de variáveis com alta correlação para tratamento de multicolinearidade. O valor de p foi considerado 5%.
Resultados: A amostra foi de 715 pacientes, dos quais 70,7% (n=506) evoluíram à óbito e 29,2% (n= 209) sobreviveram. Para o modelo univariável, idade entre 31-60 e 61-80 anos tiveram 4,5[OR:4,51; IC95%:1,68-12,12;] e 6,3[OR:6,3; IC95%:1,96-20,21 vezes mais chances de óbito, quando comparadas à 18-30 anos. Doenças Cardiovasculares (DCV)[OR:2,81; IC95%:1,75-4,51], câncer [OR:2,09; IC95%1,12-3,89], doenças hepáticas [OR:7,17; IC95%:1,70-30,17], obesidade [OR:2,81; IC95%:0,35-0,85], dislipidemias [OR:0,57; IC95%:0,36-0,92] e doenças neurológicas [OR:2,33;IC95%:1,12-4,85] foram as condições crônicas significativas para o desfecho óbito. Alterações laboratoriais das plaquetas, ureia e creatinina nas 24 horas e 7º dia apresentaram significância no grupo óbito, assim como ter sido submetido à diálise [OR=5.65; IC95%:3.965-8050], ventilação mecânica invasiva (VMI) [OR:5.61; IC95%:3.799-8.308] ou uso de vancomicina [OR:5.83;IC95%=4.097-8.300]. Para o modelo multivariável após ajustes de colinearidade, os preditores independentes para óbito foram idade, VMI, vancomicina, uso de anticoagulantes, DCS, doença hepática, diálise e as plaquetas em 24 horas. A curva ROC do modelo ajustado (AUC:0.904) demonstrou ótimo desempenho do modelo.
Conclusão: A idade avançada DCV, hepáticas, contextos clínicos de gravidades e coinfecções demonstraram ser os fatores associados para predizer mortalidade dos pacientes graves com COVID-19.