Introdução: A doença reumática cardíaca corresponde a aproximadamente 15% dos casos de insuficiência cardíaca (IC) em países endêmicos. Apesar de menor incidência, a recidiva de cardite reumática pode ocorrer ao longo da vida do paciente, sendo de suma importância a prevenção, identificação precoce e tratamento adequado dessa complicação.
Relato de caso: Paciente masculino, 44 anos, submetido à troca valvar mitral por prótese mecânica devido à estenose mitral reumática. Evoluiu, 5 meses após a cirurgia, com sintomas de IC. Identificada disfunção ventricular nova, com queda da fração de ejeção de ventrículo esquerdo (FEVE) de 60% para 20% à custa de hipocinesia difusa, disfunção moderada do ventrículo direito, além de prótese mecânica mitral normofuncionante. Angiotomografia de coronárias sem reduções luminais, angiotomografia de artérias pulmonares descartou tromboembolismo pulmonar e ressonância magnética cardíaca sem realce tardio. Paciente foi submetido à tomografia por emissão de pósitrons (PET/CT) com Flúor-Deoxi-Glicose (18F-FDG) evidenciando processo inflamatório cardíaco em atividade (SUVmax 6,6), sugestivo de cardite reumática. Iniciou corticoterapia (Prednisona 1 mg/kg) por 6 semanas, com melhora de sintomas. Novo PET/CT mostrou redução parcial de processo inflamatório (SUVmax 4,4; Figura 1 Quadros A1 e A2), sendo estendido novo ciclo de prednisona 80mg/dia por mais 3 semanas, seguido de desmame gradual. Após, realizou controle com cintilografia com Gálio-67, negativa para processo inflamatório cardíaco (Figura 1 Quadro B). Novo ecocardiograma com FEVE 52%, além de remodelamento reverso com redução geométrica de cavidades.
Discussão: A IC secundária à cardite reumática é uma etiologia com tratamento específico e passível de reversão, porém muitas vezes é subdiagnosticada. É importante levantar suspeição em pacientes com histórico de acometimento cardíaco reumático prévio e evolução de IC nova para garantir tratamento precoce e instituição de profilaxia adequada. A biópsia endomiocárdica possui riscos, sendo a cintilografia com Gálio-67 e o PET/CT com 18F-FDG alternativas menos invasivas e com boa acurácia para o diagnóstico. O tratamento consiste no uso de Prednisona 1mg/kg por 4 a 6 semanas, com reavaliação da atividade inflamatória após, além da profilaxia com Penicilina Benzatina.
Conclusão: A instituição do tratamento correto e precoce na cardite reumática pode proporcionar reversão da disfunção ventricular, sendo, portanto, capaz de mudar a história natural e prognóstico da doença.