Introdução: A avaliação cardiovascular pré-operatória para cirurgias vasculares possui particularidades devido à fisiopatologia comum às doenças cardiovasculares. Nesses procedimentos a prevalência de desfechos cardíacos adversos é elevada e a doença arterial coronariana (DAC) é encontrada na maioria dos pacientes. A angiotomografia de coronárias (angioTCC) apresenta alto valor preditivo negativo e alta acurácia para DAC. O objetivo do estudo foi avaliar o valor preditivo da angioTCC para eventos cardiovasculares em curto prazo em pacientes submetidos a cirurgia vascular. Métodos: Estudo longitudinal, retrospectivo, realizado em hospital terciário que incluiu dados de Setembro/2015 a Março/2022. Foram selecionados 82 pacientes que realizaram angioTCC durante avaliação pré-operatória de cirurgia vascular. Os pacientes (n = 42) com redução luminal coronariana significativa (obstrução ≥ 50%) foram encaminhados para cineangiocoronariografia. Os pacientes submetidos diretamente à cirurgia (n = 40) foram avaliados até o terceiro dia pós-operatório ou alta quanto ao desfecho primário combinado de morte cardiovascular e infarto agudo do miocárdio (IAM) e aos desfechos secundários de tempo de internação hospitalar e injúria miocárdica. Resultados: A idade média foi de 65,7 ± 9,2 anos, 80% eram hipertensos, 60% dislipidêmicos, 35% diabéticos e 45% tabagistas. Pelo índice de risco do Estudo Multicêntrico de Avaliação Perioperatória (EMAPO), 5% dos pacientes eram de alto risco, 45% de risco intermediário e 42,5% de baixo risco. Os pacientes foram submetidos à endarterectomia de carótidas, correção de aneurisma de aorta abdominal ou revascularização de membros inferiores. O escore de cálcio foi de 175,9 ± 194,8 Agatston. Não houve nenhum óbito ou IAM no pós-operatório. Elevação dos níveis de troponina acima do percentil 99 ocorreu em 42,5% dos pacientes (n = 17), sendo que elevação acima de duas vezes o valor da normalidade ocorreu em apenas 1 paciente (2,5%), no qual a troponina atingiu níveis 4,2 vezes maiores que o limite superior da normalidade. O tempo de internação após a cirurgia vascular foi de 4,5 ± 3,0 dias. Não houve diferença no tempo de internação entre aqueles com e sem injúria miocárdica (4,6 ± 2,9 vs. 4,5 ± 3,2, respectivamente; p = 0,44). Conclusão: A angioTCC sem lesões significativas foi preditora de ausência de eventos cardiovasculares em pacientes submetidos a cirurgia vascular.