Introdução: No âmbito da cirurgia cardíaca, apesar dos avanços contínuos na técnica cirúrgica e nos cuidados perioperatórios, desfechos desfavoráveis no pós-operatório continuam a ser um importante desafio, que gera impacto na morbimortalidade associada a tais procedimentos. Durante a pandemia de COVID-19, tais desafios foram maximizados, possivelmente pelo fato de terem sido operados neste período os indivíduos mais graves, e também por terem os pacientes ficado sem uma boa assistência durante o período pandêmico. Objetivos: Avaliar preditores de infecção hospitalar e de tempo de internação pós cirurgia cardíaca em pacientes de um Hospital Universitário do nordeste brasileiro em 2021. Metodologias: Estudo de coorte retrospectiva, com análise de dados clínico-laboratoriais obtidos dos prontuários eletrônicos de pacientes submetidos à cirurgia cardíaca no referido hospital universitário, em 2021. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará.Resultados: Foram avaliados 59 pacientes, com idade 57,9 ± 11,6 anos, 54.2% eram mulheres e 47,5% foram submetidos à cirurgia valvar. No pós-operatório, apresentaram infecção 49.2%, Acidente Vascular Encefálico 5,1% e 13.6% morreram. O tempo de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) foi de 4 (IQR 3-7) dias e de internação hospitalar 24 (IQR 14-41) dias. Indivíduos com infecção tiveram menor hemoglobina (Hb) pós-operatória (10,03 ± 1,46, p=0,026). Pessoas que permaneceram maior tempo em UTI tiveram menores valores de Hb pós-operatória (9,47 ± 0,96, p<0,001) e os que tiveram maior permanência hospitalar apresentaram menor Hb pré (11,6 ± 2,29, p=0,002) e pós-operatória (9,91±1,66, p=0,009), receberam mais transfusões (63%, p=0,004) e evoluíram com mais infecções (67,9%, p=0,006). Menores níveis de Hb pós-operatória se associaram de forma independente a maior ocorrência de infecção (OR=0,667, IC 0,454-0,98, p=0,039) e a maior permanência em UTI (OR 0,568, IC 0,348-0,928, p=0,024). Transfusão de hemácias (OR12,267, IC 1,232-122,173, p=0,033) se associou à maior permanência hospitalar. Conclusão: Observou-se tempo de internação hospitalar e de UTI aumentados, bem como maiores taxas de infecção na amostra avaliada. Detectamos ainda que menores níveis de Hb e necessidade de hemotransfusão se associaram a maior ocorrência de complicações pós-operatórias. É possível que nossos achados tenham refletido uma maior gravidade dos pacientes operados no período pandêmico.