Introdução: Dados sobre o comportamento da fibrose miocárdica difusa (FM) em pacientes com insuficiência aórtica (IA), estenose aórtica de alto-gradiente (EA-AG) e estenose aórtica de baixo-gradiente com fração de ejeção reduzida (EA-BG) submetidos à cirurgia valvar são escassos. O objetivo desse trabalho é avaliar as características da FM através de dados da ressonância magnética cardíaca (RMC) pré e pós-operatória.
Métodos: Estudo prospectivo incluindo pacientes com IA (32), EA-AG (67) e EA-BG (39), que preenchiam critérios para intervenção cirúrgica. Foi repetida a RMC 6 a 8 meses após a cirurgia e para comparação entre os dados pré e pós-operatórios (delta=Δ). A análise quantitativa incluiu avaliação da fração de volume extracelular (ECV), ECV indexada (iECV) e massa miocárdica (MM)
Resultados: Houve diferenças nas características basais entre pacientes com IA, EA-AG e EA-BG em relação à idade (54±14 vs 63±8 vs 67±8 anos, respectivamente; p<0.01), sexo masculino (75% vs 50% vs 82%, respectivamente; p<0.01), e STS (0.74±0.3 vs 1.11±0.5 vs 3.21±2.1%, respectivamente; p<0.01). Na RMC, encontramos diferenças em relação ao ECV (29±6 vs 27±4 vs 29±6%, respectivamente; p=0.01), MM (215±76 vs 161±51 vs 203±51g, respectivamente; p<0.01) e iECV, significativamente maior na IA (50±31 vs 21±8 vs 34±10ml/m², respectivamente; p<0.01). Todos os pacientes foram submetidos à cirurgia valvar e houve diferença no tempo de CEC (94±25 vs 97±20 vs 75±41min, respectivamente; p<0.01) e na mortalidade em 30 dias (0% vs 3% vs 15%, respectivamente; p<0.01). Os dados pós-cirurgia de pacientes com IA (32), EA-AG (62) e EA-BG (21) demonstraram uma redução comparável em todos os grupos em relação à MM pré-operatória (ΔMM: -39.3±41.5 vs -33.4±30.9 vs -23.4±34.2g, respectivamente; p=0.36) (Figura 1). Em contraste, o iECV diminuiu pós cirurgia apenas na IA, permanecendo estável em EA-AG e EA-BG (ΔiECV: -19.1±22.5 vs -1.4±7.4 vs 0.9±12ml/m², respectivamente; p<0.01). Assim, o ECV pós-operatório manteve valores estáveis na IA, enquanto aumentou na EA-AG e EA-BG (ΔECV: -0.1±4.5 vs 1.5±5.1 vs 2.9±4.9%, respectivamente; p=0.09).
Conclusão: No período pós-operatório, observou-se uma diminuição na MM em todos os grupos de patologias valvares aórticas. No entanto, apenas pacientes com IA mostraram uma redução simultânea e proporcional na massa de FM, explicando os padrões de variação do ECV. Assim, a redução da FM no período pós-operatório parece variar de acordo com a fenótipos apresentados, e pacientes com IA exibem remodelação reversa precoce apesar de apresentarem níveis elevados de FM.