Introdução: Há uma carência de dados sobre as diferenças nos padrões de fibrose miocárdica intersticial (FMI) entre a estenose aórtica de alto-gradiente (EA-AG), estenose aórtica de baixo-gradiente com fração de ejeção reduzida (EA-BG) e insuficiência aórtica (IA). Este estudo teve como objetivo avaliar os padrões de FMI em diferentes fenótipos de doenças valvares aórticas.
Métodos: Estudo prospectivo com 138 pacientes com IA (32), EA-AG (67) e EA-BG (39), todas importantes. Todos pacientes foram submetidos à ressonância magnética cardíaca (RMC). A análise quantitativa incluiu avaliação da fração de volume extracelular (ECV), ECV indexada (iECV) e massa miocárdica (MM).
Resultados: Diferenças foram evidenciadas nas características basais entre pacientes com IA, EA-AG e EA-BG em relação à idade (54±14 vs 63±8 vs 67±8 anos, respectivamente; p<0,001), sexo masculino (75% vs 50% vs 82%, respectivamente; p=0,002), classe funcional NYHA III e IV (37,5% vs 55,2% vs 30,8%, respectivamente; p=0,034), EuroSCORE II (1,16±0,5 vs 1,26±0,4 vs 3,39±2,6%, respectivamente; p<0,001) e STS (0,74±0,3 vs 1,11±0,5 vs 3,21±2,1%, respectivamente; p<0,001). Em relação à prevalência de comorbidades, diferenças foram observadas em termos de diabetes (6,3% vs 26,9% vs 38,5%, respectivamente; p=0,007), hipertensão (78,1% vs 67,2% vs 66,7%, respectivamente; p=0,48) e fibrilação atrial (0% vs 0% vs 25,6%, respectivamente; p<0,001). A RMC revelou diferenças na fração de ejeção (FE) do ventrículo esquerdo (53±12 vs 65±11 vs 34±11, respectivamente; p<0,001) e massa de realce tardio com gadolínio (7,8±11,7 vs 6,6±10,4 vs 8,5±9,9g, respectivamente; p<0,001). O ECV foi diferente entre os grupos (29,2±5,6 vs 27,0±3,6 vs 29,4±5,9%, respectivamente; p=0,013) (Figura 1), devido diferenças entre EA-AG vs EA-BG (post hoc p=0,025). A massa ventricular esquerda variou entre os grupos (215±76 vs 161±51 vs 203±51g, respectivamente; p<0,001), mas foi semelhante comparando EA-AG vs EA-BG (post hoc p=0,685). O iECV global divergiu entre os grupos e foi significativamente mais alto em pacientes com IA (50,1±31,0 vs 21±8 vs 34,2±10,2 ml/m², respectivamente; p<0,001).
Conclusão: Estágios iniciais de IA apresentam maiores quantidades de volume de fibrose mesmo em comparação com a EA em estágio avançado (EA-BG). No entanto, o ECV foi semelhante entre os grupos, indicando que a FMI se comporta de forma diferente entre os diversos fenótipos de doenças valvares aórticas, e valores isolados de volume de fibrose (iECV) na IA podem não ser necessariamente considerados na indicação de intervenção valvar.