Introdução: Diariamente chegam aos ambulatórios de cardiologia pacientes com disfunção ventricular, e existem dúvidas sobre investigação na suspeita de miocardites agudas e subagudas. Apresentamos caso desafiador no cenário de miocardites e a trilha do diagnóstico.
Caso: Masculino, 50 anos, sem antecedentes relevantes, dispneia aos esforços, ortopneia e sibilância há 6 meses, asma de início recente, e dor torácica atípica há 3 meses. Atendimento por dispneia CF IV NYHA e edema em membros inferiores. Admitido em insuficiência cardíaca (IC) perfil B. ECG ritmo sinusal, infra de ST de V3-6, D1 e AVL. Troponina 1712. Eosinófilos 13.300. Ecocardiograma FE 25%, DDFVE 64, hipocinesia difusa. Ressonância cardíaca (RMC) edema miocárdico difuso, realce tardio subendocárdico difuso e mesocárdico (septo anterior basal e inferior médio). Realizada imunossupressão com corticoide e ciclofosfamida, por hipótese inicial de granulomatose eosinofílica com poliangeíte (GEPA) e acometimento secundário grave. Biópsia endomiocárdica (BEM): hipertrofia de células cardíacas, fibrose intersticial, sem evidência de granuloma, ou vasculites. Descartadas neoplasias hematológicas através de biópsia de medula óssea. Instituída terapia para insuficiência cardíaca bem como diureticoterapia, com compensação clínica, porém 2 semanas após suspensão de corticoide, recidiva de miocardite, readmitido em IC perfil B e eosinófilos 35.000. Visto ausência de critérios para diagnóstico de GEPA (ANCA negativo e ausência de granuloma em biópsias), feito diagnóstico de Síndrome Hipereosinofílica Idiopática e reiniciado corticoide. Atualmente, em otimização de terapia para IC, em CF III e com melhora de FE para 39%, em desmame de corticoide, aguardando painel de mutações mielóides para terapia alvo.
Discussão: Miocardite eosinofílica é um tipo de miocardite inflamatória rara e grave. Causada por infiltração de eosinófilos no miocárdio, causando apoptose do cardiomiócito, culminando com disfunção ventricular. O caso ilustra o desafio diagnóstico, principalmente quando a BEM não evidencia infiltração de eosinófilos – exame com baixa sensibilidade. Diante de clínica com evolução grave, associado com eosinofilia de grande monta, devemos lançar mão da RMC, que no caso foi altamente sugestiva, e ajudou a concluir o diagnóstico desta patologia grave e rara, o que contribuiu para a instituição do tratamento imunossupressor, com boa evolução.