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A cirurgia multivalvar ainda apresenta risco mais elevado em comparação à cirurgia univalvar na prática contemporânea?

Fernanda Castiglioni Tessari, Vitor Emer Egypto Rosa, Daniella Cian Nazzetta, Camila Eduarda Andrade, Giovanna Alves de Souza, Laura Beatriz Vieira Ferola, Lynnie Oberg Arouca Bassoli, Layara Fernanda Vicente Pereira Lipari, Roney Orismar Sampaio, Flavio Tarasoutchi
INSTITUTO DO CORAÇÃO DO HCFMUSP - - SP - BRASIL

Introdução: Os dados da literatura sobre cirurgia multivalvar são heterogêneos, não contemporâneos e com baixa representatividade de países subdesenvolvidos, onde predomina a doença reumática. Objetivo: Realizar uma análise comparativa de dados clínicos, epidemiológicos e resultados cirúrgicos entre pacientes submetidos à cirurgia de uma e 2 ou mais doenças valvares concomitantes. Métodos: Pacientes consecutivos incluídos no Registro do INCORVALVE foram divididos em dois grupos de acordo com o número de válvulas tratadas cirurgicamente no mesmo procedimento: univalvar vs multivalvar. Os desfechos foram avaliados em 30 dias. Resultados: Dos 459 pacientes incluídos, havia 400 pacientes univalvares e 59 multivalvares, com apenas 1 destes submetido à cirurgia concomitante de 3 válvulas. Os grupos eram semelhantes quanto à idade (55±16 vs 55±15 anos, respectivamente; p=0,98), sexo masculino (49,3% vs 52,5%, respectivamente; p=0,74),classe funcional NYHA III ou IV (66,7% vs 76%, respectivamente; p=0,08) e prevalência de comorbidades como hipertensão (59,6% vs 54,2%, respectivamente; p=0,57) e diabetes (18% vs 22%, respectivamente; p=0,57). Os pacientes multivalvares apresentaram pressão arterial pulmonar sistólica mais elevada (47,7±19,4 vs59,2±19,6mmHg, respectivamente; p≤0,01) e menor clearance de creatinina(72,7±33,4 vs 62,4±25,4mL/min, respectivamente; p=0,03). No grupo univalvar, predominaram a troca da válvula aórtica (45,4%) e a troca da válvula mitral (34,9%), enquanto no grupo multivalvar, troca da válvula aórtica ocorreu em 69,5%, troca da válvula mitral em 50,8%, plástica mitral em 42,4% e plástica tricúspide em 16,9%.O tempo de circulação extracorpórea e o tempo de anóxia foram maiores no grupo multivalvar. No entanto, não houve diferença entre os grupos na mortalidade geral em 30 dias e nos demais desfechos (Figura 1). Na regressão logística, a cirurgia multivalvar não foi um preditor de mortalidade em 30 dias (HR: 1,50, IC95% 0,611-3,68, p=0,38).Os preditores foram: diabetes (HR: 2,56, IC95% 1,21-5,43, p=0,01), troca da válvula mitral (HR: 3,01, IC95% 1,46-6,19, p≤0,01), fração de ejeção do ventrículo esquerdo (HR: 0,96, IC95% 0,93-0,99, p≤0,01) e clearance de creatinina (HR: 0,96, IC95% 0,95-0,98, p≤0,01). Conclusão: Nesta série de casos contemporânea, a cirurgia multivalvar apresentou risco comparável à cirurgia univalvar, contrariando os resultados dos estudos mais antigos. Isso pode ser atribuído aos avanços nas técnicas cirúrgicas, bem como ao predomínio de pacientes jovens na população estudada, muitos dos quais têm etiologia reumática.

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