Relato de caso:
Paciente R.A.C., 51 anos, parda, com hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia, e tabagismo ativo (28 anos/maço), antecedente de infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento de ST há 5 anos tratado por angioplastia de coronária descendente anterior (DA).
Reavaliada com angina instável, novo cateterismo cardíaco demonstrou padrão obstrutivo triarterial, com lesões em coronária direita (CD), 70-80% e ramos ventricular posterior e descendente posterior com ateromatose difusa. DA com stent com resultado mantido e lesão de 70-80% distal e artéria circunflexa (CX) com lesão 80-90% em segmento médio, todas intensamente calcificadas.
Ecocardiograma (ECO-TT) evidenciou fração de ejeção de 27%, acinesia das paredes inferior, apical e septal. Discussão em Heart Team optou pelo tratamento percutâneo devido a leitos coronários distais também comprometidos. Planeou-se angioplastias estagiadas de CX e, em segundo momento, CD.
Durante a angioplastia de CX, após a insuflação do stent houve ruptura do balão e imediatamente após a paciente evoluiu com hipotensão e bradicardia, com melhora após administração de atropina e hidratação venosa.
Angiografia demonstrou blush miocárdico, compatível com perfuração coronariana tipo II de Ellis, tratada imediatamente com insuflação prolongada por balão 1:1 do diâmetro do vaso. Houve contenção do blush em angiografia após 5 minutos, e ECO-TT em sala, demonstrando ausência de derrame pericárdico. Prosseguiu-se então com angioplastia da artéria CX com implante de 2 stents com sucesso e devido dissecção retrógrada de CX, estendendo-se até tronco de coronária esquerda (TCE), com implante de 1 stent TCE-CX por técnica provisional para DA com bom resultado angiográfico. Em unidade coronariana, ultrassonografia point of care evidenciou ausência de derrame pericárdico.
Posteriormente angioplastia de CD com auxílio de aterectomia rotacional, e implante de 3 stents farmacológicos, obtendo-se excelente resultado angiográfico.
Conclusão:
A perfuração coronariana é uma complicação grave durante angioplastias, principalmente de lesões calcificadas, podendo levar ao tamponamento cardíaco e óbito. Seu tratamento inicial consiste em insuflação prolongada de balão, hidratação venosa e vasopressores. Caso refratária, deve-se reverter a heparinização e uso de outras técnicas como stent recoberto e coils.