Introdução: A mortalidade por doença cardiovascular vem declinando entre os homens e aumentando entre as mulheres globalmente. Pesquisas mostraram diferenças relacionadas ao sexo na epidemiologia da doença aterosclerótica, entretanto os dados na população brasileira são escassos. Esse estudo tem como objetivo avaliar possíveis diferenças e seu impacto prognóstico em uma amostra da população brasileira.
Métodos: Pacientes com CIC, definidos como procedimento de revascularização miocárdica prévia (cirúrgica ou percutânea), infarto do miocárdio (IM) prévio ou estenose > 50% em pelo menos uma artéria coronária epicárdica, foram incluídos e acompanhados ambulatorialmente. O desfecho principal foi o composto de morte, infarto do miocárdio não-fatal e acidente vascular cerebral não-fatal. Também foram avaliadas a prescrição, sintomas e exames laboratoriais.
Resultados: Foram incluídos 1232 pacientes (31,2% mulheres) cujas características estão descritas na tabela. Mulheres, em relação aos homens, apresentaram uma maior incidência de hipertensão (97% vs 93%, p = 0,01) e doença renal crônica (35% vs 25%, p < 0,01), além de valores mais elevados de LDL-colesterol (98 vs 81 mg/dL, p < 0,01). Mulheres também tiveram uma maior fração de ejeção do ventrículo esquerdo (60% vs 55%, p < 0,01). Não houve diferenças significativas no uso de medicamentos com efeito prognóstico na CIC, incluindo estatinas de alta potência, mas mulheres apresentam maior uso de diuréticos (34% vs 21%, p < 0,01). Também não houve diferença no padrão de lesão coronariana ou na incidência de sintomas. Durante o seguimento foram registrados 189 eventos do desfecho primário composto, com uma incidência estimada em 3 anos de 16,8% (IC95% 14,1 - 19,5%), sem diferença entre os sexos. Idade (HR por ano 1,05, IC95% 1,02-1,08) e função ventricular esquerda (HR por redução 1% 1,03, IC95% 1,02 - 1,05) foram os fatores prognósticos identificados na análise multivariada.
Conclusão: O sexo não foi uma variável preditora de prognóstico no seguimento de 3 anos de pacientes com CIC – a despeito das mulheres apresentarem um pior controle dos fatores de risco e mais comorbidades. Diferentemente de outros estudos, as mulheres tiveram a mesma complexidade anatômica que os homens nessa população brasileira.