INTRODUÇÃO: A origem anômala da artéria coronária esquerda do tronco da artéria pulmonar (ALCAPA, sigla em inglês de Anomalous Left Coronary Artery from Pulmonary Artery), também conhecida como síndrome Bland-White-Garland, é uma anomalia congênita pouco comum, com incidência de 1 para cada 300.000 nascidos vivos. A maioria dos pacientes morrem antes do primeiro ano de vida, cerca de 85% dos casos. Os pacientes que chegam à idade adulta (15% dos casos) desenvolvem redes colaterais de circulação direita para a esquerda, mas podem curar com infarto agudo do miocárdio, insuficiência mitral, insuficiência cardíaca, arritmias ventriculares e morte súbita.
DESCRIÇÃO DO CASO: mulher branca, 55 anos, assintomática, com hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus tipo 2, procurou atendimento cardiológico de rotina (check-up) em 2010. Negava historia prévia de coronariopatia. Na ocasião, foram realizados exames para estratificação. O ECG de repouso com ritmo sinusal com alteração de repolarização ventricular em D1 e AVL por inversão assimétrica em onda T. Ecocardiograma normal. O Teste ergométrico evidenciou isquemia miocárdica com infradesnivelamento do segmento ST de 2mm, em V4, V5 e V6, D2 e AVF sem sintomatologia de insuficiência coronariana. Cintilografia miocárdica normal. Segui-se então acompanhamento regular com bom controle pressórico e glicêmico. Manteve acompanhamento com paciente assintomática por vários anos, até que um novo teste ergométrico evidenciou alterações de isquemia ao esforço, e dessa vez, um teste anatômico foi solicitado. A Angiotomografia de coronárias evidenciou tronco da coronária esquerda originando de tronco da artéria pulmonar, com artérias coronárias difusamente ectasiadas e tortuosas. Escore de cálcio de 48. Coronária direita com placa mural calcificada sem redução luminal. Ecocardiograma atual apresentava (AE) de 43 mm, disfunção diastólica do VE com padrão pseudo-normal (grau 2), fração d e ejeção preservada, presença de fluxo sisto-diastólico, com predomínio diastólico, na projeção de via de saída do VD.
CONCLUSÃO: Em adultos assintomáticos, apenas se isquemia crônica moderada e pequena área de necrose estiverem presentes, a sobrevivência sem correção cirúrgica é possível. Nesse contexto, a Ressonância Magnética (RM) é uma excelente ferramenta no algoritmo para decisão terapêutica. A paciente deste relato apresenta cintilografia miocárdica negativa para isquemia. Logo, optamos pelo tratamento clínico e acompanhamento com provas funcionais semestrais.