Introdução: O remodelamento reverso (RR) está associado a melhores desfechos de mortalidade e morbidade na insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFER), no entanto, a incidência e os fatores associados ao RR na cardiomiopatia de Chagas (CC) permanecem incertos.
Métodos: De janeiro de 2006 a setembro de 2021, o prontuário de 1043 pacientes com CC associada a ICFER foram avaliados. O remodelamento reverso positivo (RRP) foi definido como: fração de ejeção do ventrículo esquerdo no segundo ecocardiograma de 40% ou mais ou um aumento absoluto da FEVE em 10% ou mais.
Análise estatística: Para características basais, utilizou-se os testes de Kolmogorov-Smirnov para variáveis numéricas e o teste Qui-quadrado para as categóricas. Para encontrar fatores associados ao RRP, realizou-se modelo de regressão logística univariada seguida de análise multivariada com as variáveis que demonstraram valor de p < 0,05. A significância estatística foi estabelecida com um valor de P < 0,05.
Resultados: 221 (21,2%) foram classificados como RRP e 822 (78,8%) como remodelamento reverso negativo (RRN). Os indivíduos no grupo RRP eram principalmente mulheres (51,6% versus 41,4%; p<0,001), mais velhos [59 anos (53 – 66) versus 56 anos (47 – 64); p = 0,007], mais hipertensos (43,4% versus 35,8%; p = 0,036) e tinham valores iniciais mais elevados de frequência cardíaca [70 bpm (60 – 80) versus 65 bpm (60 – 75); p = 0,002] e FEVE [30,0% (26,0 – 35,0) versus 29% (25,0 – 34,0); p<0,001] em comparação ao grupo RRN. Além disso, o grupo RRP tinha uma menor taxa de pacientes utilizando betabloqueadores (BB) (76,6% versus 87,0%; p = 0004), espironolactona (38,5% versus 59,5%; p<0,001) e terapia tripla (30,9% versus 50,4%; p<0,001). A análise de regressão logística multivariada identificou a idade [razão de chances (OR): 1.593; intervalo de confiança de 95% (IC 95%) 1,096 – 2,314; p 0,015], o diâmetro sistólico final do ventrículo esquerdo (OR: 0,517; IC 95% 0,354 – 0,754; p <0,001) e insuficiência mitral moderada a grave (OR: 0,269; IC 95% 0,119 – 0,608; p 0,002) como fatores independentes associados ao RRP. Este modelo apresentou uma área sob a curva (AUC) de 0,718.
Conclusão: Este estudo adiciona ao crescente corpo de evidências de que fatores desempenham um papel crucial no RR na CC e consequentemente nos desfechos clínicos.