Introdução: Com uma prevalência global entre 8 e 51 por 100.000, a febre reumática (FR) aguda é comum em crianças de 5 a 15 anos, pós-infecção estreptocócica. A cardite reumática, complicação possível, requer tratamento imediato da infecção e profilaxia para evitar recorrências. O diagnóstico baseia-se nos critérios de Jones modificados. A profilaxia com penicilina reduz a incidência da cardite reumática, apesar da rara reativação.
Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo, tipo relato de caso, realizado com informações do prontuário.
Resultados: A.R.C.C.V., 49 anos, pré-diabética, tabagista por 34 anos, natural de Angola, gemelar com restrição de crescimento intrauterino, nasceu em hipóxia neonatal. Aos 3 meses, apresentou insuficiência cardíaca (IC) e insuficiência mitral, sem anomalias cardíacas congênitas. Aos 49 anos,realizou um ecocardiograma que mostrou função ventricular preservada e fusão comissural da válvula mitral, sugerindo FR, com insuficiência mitral moderada. Em 12/09/2023, deu entrada com dispneia, taquicardia, sopro mitral e edema. Exames mostraram marcadores reumatológicos negativos, leucocitose, VHS, PCR e troponina I elevados, fração de ejeção de VE de 37% e sinais de realce tardio miocárdico, suspeitando-se de reativação de cardite reumática. Admitida em UTI, recebeu tratamento com anti-inflamatórios, diuréticos, vasodilatadores e pulsoterapia, com recuperação completa ao ecocardiograma. Retornou em 05/11 com fibrilação atrial, realizada cardioversão e internada para investigação. PET CT que confirmou reativação da cardite reumática (imagem 1). Optou-se pela corticoterapia por tempo indeterminado, com boa evolução.
Imagem 1:PET CT demonstrando hipercaptação em paredes cardíacas, notadamente de átrios e ventrículo esquerdo, de aspecto difuso.
Discussão: O caso evidencia a reativação da cardite reumática, evento raro e grave, possivelmente relacionado a um episódio não diagnosticado de FR na infância. O diagnóstico requer investigação clínica e laboratorial, com o ecocardiograma sendo essencial e complementado por cintilografia com Gálio-67 e PET 18F-FDG. O tratamento visa controlar a inflamação e a IC, com a pulsoterapia de corticoides demonstrando eficácia. O manejo da refratariedade ao desmame de corticosteroides é complexo e o transplante cardíaco pode ser considerado em casos de IC terminal.
Conclusão: Reativação da cardite reumática em adultos é rara e grave, exigindo suspeição precoce e tratamento oportuno. Avaliação clínica e exames são cruciais, com tratamento precoce com corticosteroides para melhorar prognóstico.