Introdução: O infarto do miocárdio sem aterosclerose coronariana obstrutiva (MINOCA) é uma síndrome com muitas causas, representando 10 a 15% de todos os diagnósticos de infarto agudo do miocárdio (IAM). A síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAAF) é uma doença sistêmica autoimune caracterizada pela detecção plasmática de anticorpos antifosfolípides, tais como o anticardiolipina e o anticoagulante lúpico, que se manifesta clinicamente, sobretudo, como trombose arterial e/ou venosa recorrentes. Constitui-se na principal causa adquirida de hipercoagulabilidade, ocorrendo em 2% da população geral e apresenta alta morbimortalidade. O acometimento miocárdico, entretanto, é raramente descrito nesta patologia. Descrição do Caso: O presente relato descreve o caso de um paciente, idoso, não sedentário, hipertenso, em uso de Nebivolol 5 mg, que após viagem aérea para Suíça, apresentou no sétimo dia naquele país quadro de dor torácica típica, sem dispnéia, síncope ou palpitações associadas, eletrocardiograma com elevação milimétrica de V3, com ondas T planas, mesmo negativas em aVL, troponinas elevadas, sendo diagnosticado com síndrome coronariana aguda sem supradesnivelamento de segmento ST. Ecocardiograma apresentando fração de ejeção ventricular normal (estimada em 60%), discreta hipocinesia inferior. Após realização de cineangiocoronariografia foi evidenciada trombose de ramo ventriculares posteriores com realização de tromboaspiração por microcateter e trombectomia com stent retriever, descartada trombose venosa de membros inferiores por meio de avaliação angiográfica, iniciado tratamento com heparina de baixo peso molecular. No retorno ao Brasil, após três meses do evento, paciente foi atendido em hospital de referência, sendo então realizada investigação diagnóstica com pesquisa de SAAF, trombose venosa profunda de membros inferiores e forame oval patente (FOP). Paciente submetido ao ecocardiograma transesofágico, sem presença de FOP. Foi diagnosticado com SAAF com anticoagulante lúpico positivo. Conclusões: Desfecho favorável da SAAF primária com complicações cardiológicas com a instituição de anticoagulação plena com anticoagulante oral. O manejo clínico da hipertensão foi mantido com terapia com betabloqueador, sem recorrência da dor torácica. Sendo assim, segue em acompanhamento com hematologista e cardiologista, com objetivo de reduzir as morbidades que eventualmente possam existir.
Imagens coronária direita pré e pós trombectomia.