Introdução. A cardiomiopatia hipertrófica (CMH) é uma doença fenotipicamente heterogênea caracterizada por hipertrofia miocárdica não explicada por alguma condição sistêmica ou metabólica. Estudos recentes informam maior prevalência de insuficiência cardíaca nas mulheres, além de que eram mais propensas a se submeterem à terapia de redução septal, incluindo miectomia septal e ablação septal com álcool. Compreender os motivos baseado na diferenciação entre gênero masculino e feminino é importante entendermos melhor as características da doença.
Método. Análise retrospectiva de uma coorte de pacientes com CMH de um centro de referência especializado em cardiomiopatias, no período de 2003 a 2022. Analisamos a interação do sexo entre pacientes com CMH através dos dados clínicos e ecocardiográficos. As variáveis contínuas foram apresentadas com suas médias aritméticas e desvio padrão, entanto que as variáveis categóricas pelo número e proporção. Um valor de p<0,05 foi considerado estatisticamente significativo para todas as análises.
Resultados. Um total de 1244 foram analisados, com idade de 54.6±16.5 anos, sendo que 53.7% foram homens e 43.3% foram mulheres. O ecocardiograma revelou predomínio e significância estatística dos homens sobre as mulheres na dimensão do átrio esquerdo (44.3±7.9 vs 43.0±7.3, respectivamente; p=0.003), septo interventricular (19.3±6.0 vs 18.8±5.6; p=0.002), diâmetros e volumes diastólicos e sistólicos do VE (p<0.001). A fração de ejeção do ventrículo esquerdo foi semelhante entre os gêneros (65.7%±7.7 nos homens vs 66.1±6.3 nas mulheres; p=0,704). Na avaliação da obstrução na via de saída no ventrículo esquerdo, os homens demostraram menor prevalência de obstrução quando relacionado com as mulheres (26.1% vs 36.0, respectivamente; p<0.001). A prevalência de movimento anterior sistólico da valva mitral foi de 30.1% no grupo total, porém sem significância estatística entres os grupos (p=0.754). A prevalência de FA/Flutter atrial foi semelhante entre os sexos (6.0% nos homens vs 6.9% nas mulheres; p=0.505). A média do BNP foi menor nos homens, apresentando diferencia significativa (237 pg/mL vs 462 pg/mL; p<0.001). Na avaliação da mortalidade no mesmo grupo, 232 pacientes apresentaram óbito, sendo 44.4% nos homens e 55.6% nas mulheres; p=0.002).
Conclusão. Os pacientes do gênero masculino apresentaram maior tamanho de átrio esquerdo, do tamanho septal e do ventrículo esquerdo. A incidência de FA/Flutter atrial foi semelhante entre os géneros. Entretanto, as mulheres apresentaram aumento importante do BNP e maior mortalidade.