Introdução: A Doença de Chagas (DC) é uma infecção causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e é transmitida principalmente por insetos conhecidos como “barbeiro” (gênero Triatoma). Clinicamente possui duas fases, fase aguda e fase crônica, das quais na fase crônica pode evoluir com importantes comprometimentos cardiovasculares, além de outros sistemas, gerando expressiva morbimortalidade. Devido às características biológicas do agente e do vetor, o desequilíbrio ambiental causado pelo desmatamento é um importante fator o qual pode afetar a incidência de DC. No Brasil, a região Norte concentra a maior parte dos casos, salientado a importância de estudos das razões que estão agindo sobre esse problema de saúde pública. O presente estudo objetiva analisar a relação de causalidade entre o desmatamento e o número de casos de Doença de Chagas na região Norte do Brasil. Métodos: Para alcançar o objetivo exposto nesse estudo ecológico, foi feito uma coleta de dados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) no período de 2001 a 2019 apoiado no Tabulador Genérico do Domínio Público (Tabnet). Além disso, o MapBiomas (Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil) foi utilizado para coleta de informações sobre o uso da terra e desmatamento na região. Foi realizada uma análise de regressão linear simples para avaliar a relação entre as taxas anuais de desmatamento e incidência da doença no software PAST (versão 4.03). Resultados: Na região Norte do Brasil, o número total de casos de Doença de Chagas fora de 3719 casos, os anos em que se registrou mais casos foi em 2016 e 2018 com 355 episódios da doença cada. Sendo que o Estado do Pará representa a maior parte desses números, com 3008 casos no período. Tanto a incidência quanto as taxas de desmatamento sofreram aumento significativo e progressivo nos anos estudados. Ao analisar a relação entre as taxas de desmatamento e a incidência da Doença de Chagas, verificou-se uma relação positiva e significativa em que as taxas de desmatamento sozinhas explicaram 69% dos dados históricos de incidência (R²= 0,692; p: <0,05). Dessa maneira, o aumento do desmatamento levou ao aumento da incidência da DC na região Norte. Conclusão: Os resultados apresentados após a análise dos dados validam que o aumento da ocorrência de DC possui relação clara com o aumento do desmatamento na região Norte do Brasil. Assim, a manutenção do equilíbrio ambiental, associada a outras medidas de saúde, faz parte da prevenção de Doença de Chagas.
