Introdução: O câncer de testículo, representando apenas 5% dos casos de câncer, possui uma taxa de mortalidade baixa quando identificado precocemente. Com terapias eficazes prontamente disponíveis, o manejo da doença é facilitado, aumentando as chances de cura para até 95%. Neste relato de caso, descrevemos a evolução de um paciente com câncer testicular tratado com o protocolo BEP (Bleomicina, Etoposídeo e Cisplatina), que desenvolveu infarto agudo do miocárdio (IAM) após segundo ciclo de quimioterapia.
Relato de Caso: Homem, 33 anos, com diagnóstico de tumor testicular esquerdo. Submetido à orquiectomia radical esquerda em agosto/2023. Em novembro de 2023 evolui com acometimento linfonodal, sendo indicado quimioterapia com esquema BEP. Após 2º ciclo de quimioterapia, apresentou dor torácica típica, sendo diagnosticado IAM com Supradesnivelamento do Segmento ST Inferior. Realizado cineangiocoronariografia que evidenciou artéria circunflexa com imagem de trombo intracoronário proximal com embolização para terço distal e artéria marginal com imagem negativa proximal. Procedido com tromboaspiração, inibidor de glicoproteína IIbIIIa, sendo indicado anticoagulação terapêutica. Após 1 semana de anticoagulação terapêutica, foi submetido ao reestudo, com melhora do resultado angiográfico, sem evidência de imagens sugestivas de trombo. Considerando o diagnóstico de cardiotoxicidade do tipo trombose coronariana relacionada à platina, o caso foi levado em discussão interdisciplinar. Pelo benefício da droga no contexto oncológico, foi decidido por reexposição a droga após 45 dias do evento, estando o paciente em uso de clopidogrel e enoxaparina terapêutica. Paciente segue em tratamento quimioterápico, já reexposto à platina ( em regime de internação hospitalar), sem intercorrências cardiológicas desde então.
Conclusão: A Síndrome Coronariana Aguda tem sido associada a certos tipos de quimioterapia, especialmente 5-FU, cisplatina e o regime BEP (bleomicina, etoposídeo e cisplatina) para tumores de células germinativas. A cisplatina é reconhecida como um agente quimioterápico que pode aumentar o risco de trombose. Os possíveis mecanismos subjacentes a esse fenômeno incluem danos diretos aos vasos sanguíneos, diminuição da atividade da proteína anticoagulante e aumento dos níveis de vWf no plasma. No caso apresentado, a decisão de reexposição à cisplatina foi tomada de forma individualizada, destacando a importância de uma abordagem interdisciplinar para garantir a continuidade do tratamento oncológico, com a devida atenção aos cuidados cardiológicos.