Introdução. A hipertensão arterial está presente na maioria dos pacientes com doença renal crônica (DRC) e é uma condição clínica de alta prevalência, baixas taxas de controle e associada a significativo impactoprognóstico. Mais da metade das mortes em portadores de DRC são atribuídas à doença cardiovascular (DCV) e existem evidências inequívocas para o benefício do controle farmacológico da pressão arterial (PA) e seus componentes na redução da morbidade e mortalidade nessa população. A monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) tem se mostrado superior à PA de consultório ao definir prognóstico e dentro deste contexto, a pressão de pulso (PP) ambulatorial demonstrou ser marcador para incremento da rigidez arterial. Portanto, um dos objetivos deste estudo é esclarecer a influência relativa da PAD e da PP na predição dos eventos cardiovasculares (CV) em portadores de DRC não dependentes de diálise utilizando medidas da MAPA. Tendo em vista que existe a possibilidade de que a associação entre menores níveis de PAD e elevação do risco de morte poderia ser explicada pela maior PP, que estudos que abordaram esse tema utilizando a pressão ambulatorial são escassos, especialmente na DRC, podemos formular a hipótese de que o excesso de mortalidade observado nos menores níveis de PAD constituem uma associação espúria causada pela maior PP. Métodos. Estudo longitudinal, observacional e retrospectivo, com seguimento até dezembro de 2019 envolvendo a análise de exames de MAPA de portadores de DRC no período de janeiro de 2004 a fevereiro de 2012. Os dados foram analisados mediante a regressão de Cox. A PP, bem como a PAD foram estratificadas de acordo com quintis. O desfecho primário constituiu-se de óbito por todas as causas e o secundário o óbito por DCV. Em todas as análises foi considerado estatisticamente significante o nível de p < 0,05. Resultados. Foram registrados 78 eventos fatais entre os 375 pacientes incluídos, sendo 23 (29,5%) de natureza cardiovascular. Dentre os óbitos de natureza não cardiovascular, vale ressaltar a sepse e as neoplasias. Houve associação entre menor PAD e maior mortalidade geral, independente da PP, apenas para a mortalidade por todas as causas (gráfico 1). Não houve associação entre PAD e mortalidade CV. Conclusão. Os achados do estudo nos levam a crer que a PAD baixa pode ser considerada um epifenômeno coexistente com uma saúde debilitada ou doença crônica, as quais seriam as verdadeiras causas do aumento da mortalidade (causalidade reversa).