Introdução
A cardiomiopatia de Takotsubo (TAK) é uma condição aguda, caracterizada por anormalidades transitórias no miocárdio, frequentemente associada a evento estressor (físico ou mental), podendo cursar com alterações eletrocardiográficas e aumento de troponina, sem evidência de doença coronariana epicárdica obstrutiva que a justifique. O acometimento (balonamento) da região apical é o mais comum, correspondendo a cerca de 80% dos casos. No entanto, há formas atípicas desta miocardiopatia, sendo o envolvimento médio-ventricular presente em menos de 15% dos casos.
Descrição do caso
Paciente feminino, 51 anos, com antecedente de fibromialgia, admitida em departamento de emergência com queixa de dor precordial em aperto (angina), contínua, intensidade 8/10, sem irradiação, associada a náuseas e sudorese, após situação de estresse no trabalho. Realizado eletrocardiograma sem alterações sugestivas de isquemia - figura 1.
No entanto, apresentou curva positiva de troponina (compatível com pequeno infarto do miocárdio). Administrados AAS, clopidogrel e nitrato sublingual. Manteve-se estável hemodinamicamente, com melhora da precordialgia cerca de 4 horas após seu início. Encaminhada ao hospital cardiológico de referência para estratificação invasiva. Cateterismo sem lesões coronarianas epicárdicas obstrutivas, porém ventriculografia evidenciando acinesia dos segmentos médios (lateral e inferior) e hipercinesia basal e apical - sugestivo de TAK forma médio-ventricular - figura 2.
Realizada ressonância magnética (RM) cardíaca, após 4 dias do evento índice, que evidenciou acinesia do terço médio da parede anterior, FEVE (fração de ejeção do ventrículo esquerdo) de 59%, sem realce tardio (padrão sugestivo de TAK médio-ventricular). Paciente evoluiu estável, sem intercorrências, recebendo alta com losartana e metoprolol, além de inibidor de recaptação da serotonina e encaminhamento para reabilitação cardiovascular.
Conclusão
A cardiomiopatia de Takotsubo deve ser um diagnóstico diferencial no contexto de dor torácica e suspeita de síndrome coronariana aguda com artérias coronárias normais. O padrão típico - balonamento apical - já é bem conhecido na prática clínica. Entretanto, existem outros padrões, como o descrito no caso acima, que não devem ser negligenciados e merecem uma atenção especial.