Introdução:
O carcinoma de células renais representa 85% dos cânceres renais e aproximadamente 2-3% de todos os casos de câncer em adultos com incidência crescente em escala global. A Cardio-Oncologia dedica-se à avaliação do risco cardiovascular diante do diagnóstico oncológico, bem como às necessidades do paciente durante todas as fases do tratamento. Apresentamos neste relato um caso clínico no qual a decisão interdisciplinar desempenhou um papel fundamental no desfecho cardio-oncológico.
Descrição de Caso: Paciente de 65 anos, masculino, admitido em consulta de pré operatório para ressecção de Tumor Renal à esquerda de 2,6 cm. Encontrava-se com quadro de dispneia CF II e hipervolêmico ao exame físico. Apresentava histórico familiar de morte súbita dos filhos (17 e 27 anos). Eletrocardiograma evidenciava ritmo sinusal e Bloqueio de Ramo Esquerdo. Ecocardiograma com disfunção ventricular com Fração de Ejeção do Ventrículo Esquerdo (FEVE) de 19%. Iniciada terapia medicamentosa e solicitado ressonância magnética cardíaca (RMC). A RMC (Figura 1 e 2) demonstrou FEVE 15% com extenso realce tardio de distribuição mesocárdica/subepicárdica (padrão não isquêmico) acometendo todo septo interventricular com extensão para as paredes anterior e inferior, com diagnóstico de Cardiomiopatia Arritmogênica de Ventrículo Esquerdo. Considerando IC avançada, o caso foi discutido em reunião multidisciplinar, e indicado Terapia de Ressincronização Cardíaca com Cardiodesfibrilador Implantável (TRC-D). E contraindicada a abordagem cirúrgica, e optado por tratamento de radioablação do tumor. Paciente evoluiu bem do ponto de vista cardiovascular, com melhora da FEVE para 41% e realizado ablação do tumor, com seguimento estável.
Conclusão:
O caso ilustra de forma significativa o impacto da abordagem da Cardio-Oncologia no tratamento de pacientes oncológicos. A intervenção multidisciplinar, envolvendo oncologistas, cardiologistas e outros profissionais, desempenhou um papel crucial na tomada de decisões terapêuticas apropriadas. Além disso, o diagnóstico de uma doença rara foi possibilitado pela realização de RMC. Nesse contexto, a contraindicação da abordagem cirúrgica e a opção pela TRC-D, seguida pela radioablação do tumor, resultaram em uma evolução positiva tanto do ponto de vista cardiovascular quanto oncológico. Isso ressalta a importância da colaboração entre diferentes especialidades e da aplicação de uma conduta individualizada na gestão desses pacientes.