Introdução: O implante de valva aórtica transcateter (TAVI) consolidou-se como tratamento preferencial para estenose aórtica em pacientes inoperáveis, de alto risco e moderado risco cirúrgico ou de baixo risco em idosos acima de 70 anos. Relatamos uma complicação rara da TAVI, a embolização e migração da prótese periprocedimento, sendo a complexidade anatômica um fator de risco não evitável.
Relato de caso: Paciente do sexo masculino, 84 anos, sem histórico de comorbidades relevantes, apresentava quadro de estenose aórtica importante, sintomática com presença de complicadores. O eletrocardiograma evidenciava ritmo sinusal com bloqueio atrioventricular de primeiro grau e bloqueio de ramo esquerdo. O ecocardiograma demonstrou área valvar 0,66cm², com gradiente médio de 60mmHg, fração de ejeção de 37%. A angiotomografia evidenciou valva aórtica trivalvular com escore de cálcio de 7059AU e calcificação significativa do anel e via de saída ventricular esquerda, com aspecto de dente de sabre (imagem 1). Altura do óstio da coronária esquerda de 14,5mm e direita de 15,9mm. Optou-se por implantar uma prótese autoexpansível Evolut Pro Plus™ 29mm (Medtronic, Minneapolis, MN), devido à complexidade anatômica e calcificação exuberante. Após pré dilatação com valvoplastia aórtica, a prótese foi implantada com uma estratégia atual de posicionamento alto minimizando o risco de bloqueio atrioventricular total. Resultado angiográfico imediato ótimo (imagem 2). O controle angiográfico subsequente revelou deslocamento (pop-up) da prótese com embolização para aorta ascendente (imagem 3), sem instabilidade hemodinâmica. Optou-se pelo implante de uma segunda prótese Evolut Pro Plus™ 29mm (Medtronic, Minneapolis, MN) com sucesso (imagem 4), sem obstrução coronária, leak residual ou gradiente transvalvar pela manometria e ecocardiografia. Evoluiu sem intercorrências clínicas ou necessidade de marcapasso, recebeu alta no 4º dia após procedimento.
Discussão: No caso em questão, a significativa calcificação valvar e a extensão para a via de saída do ventrículo esquerdo representam maior risco de ruptura anular, justificando a escolha de uma prótese autoexpansível. Após a embolização optou-se pelo implante de uma segunda prótese Evolut Pro Plus™ 29mm (Medtronic, Minneapolis, MN) reconhecendo maior risco de oclusão coronária, o qual não ocorreu. A estratégia foi bem-sucedida com ótima evolução do paciente.