Mulher, 71 anos, foi avaliada em domicílio após anos sem assistência odontológica devido à dificuldade de ir ao consultório por limitação motora. Suas queixas foram: dor na hemiface direita e desejo de usar próteses dentárias. Como comorbidades apresentava Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), histórico de 2 episódios de Acidente Vascular Cerebral isquêmico (AVCi) nos últimos 3 anos e Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) há 20 anos. Medicações em uso: atenolol, enalapril, atorvastatina e ácido acetilsalicílico (AAS). Durante a primeira avaliação, a paciente apresentou-se contactuante, em uso de cadeira de rodas e afirmou ser odontofóbica. Ao exame extraoral não foram observadas alterações relevantes. No exame intraoral, observou-se dentição parcial, presença de raízes residuais em região compatível com a dor relatada pela paciente, fratura coronária, cálculo dentário e gengivite moderada generalizada. Foi elaborado um plano de tratamento com o objetivo de adequar o meio bucal, considerando suas queixas e história médica. Em domicílio, foram realizadas terapia periodontal básica e restaurações definitivas com manejo não farmacológico para redução do estresse, no entanto, devido ao comportamento da paciente durante os tratamentos anteriores, optou-se por realizar as exodontias sob sedação com anti-histamínico e óxido nitroso. O procedimento foi realizado com monitoramento dos sinais vitais. Após as extrações, foram realizadas manobras hemostáticas locais e sutura com fio não absorvível. Não houve intercorrências no pós-operatório. Pacientes com histórico de AVCi elegíveis para uso de antiagregação plaquetária frequentemente questionam os dentistas sobre a suspensão desse medicamento para a realização de exodontia, principalmente quando são realizados em domicílio. Apesar das múltiplas exodontias, não foi necessária a suspensão do AAS por se entender que o risco de um novo evento tromboembólico superava o risco de hemorragias trans e pós-operatória. A hemostasia foi alcançada por meio das manobras supracitadas e do tempo cirúrgico otimizado. Além disso, devido à HAS e à odontofobia, a sedação foi indicada para o controle do estresse e o atendimento domiciliar proporciona ao paciente acesso ao dentista. Portanto, enfatiza-se a importância de conhecer o paciente em sua esfera biopsicossocial para um planejamento odontológico adequado, principalmente nos casos de pacientes cardiopatas que são atendidos em domicílio.