INTRODUÇÃO: O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) pode contribuir ou causar alterações estruturais no miocárdio por múltiplos mecanismos, incluindo miocardiopatia isquêmica e, mais raramente e de difícil avaliação, miocardiopatia diabética. Estágios iniciais de disfunção miocárdica podem ser avaliados pelo strain na ressonância magnética cardíaca (RMC) utilizando a técnica de feature tracking, no entanto, não existem estudos que avaliaram estes parâmetros de deformação em pacientes diabéticos com doença arterial coronariana (DAC) crônica. OBJETIVO: Comparar o strain miocárdico em pacientes com DAC crônica com e sem DM2. MÉTODOS: Pacientes com DAC crônica multiarterial e fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) preservada, incluídos no estudo MASS V, foram submetidos a RMC antes do procedimento proposto de revascularização. Os pacientes foram estratificados em diabéticos e controles de acordo com o diagnóstico na inclusão. A análise do strain por feature tracking foi realizada utilizando cortes em eixo curto, 2 e 4 câmaras. Os contornos do endocárdico e do epicárdico foram realizados manualmente no final da diástole, e os contornos de rastreamento foram realizados automaticamente para o cálculo do strain longitudinal, circunferencial e radial global do ventrículo esquerdo. RESULTADOS: 202 pacientes foram estudados, sendo 88 (44%) diabéticos e 114 (56%) não diabéticos. As características basais foram semelhantes entre os grupos (idade 70 ± 10 vs 69 ± 11; 69% vs 68% homens; FEVE 65 ± 13 vs 67 ± 9). A média do Syntax Score foi de 21,2 ± 8,5 vs 20,4 ± 8,5 (P=0,52) entre os pacientes diabéticos e os controles, respectivamente. Não houve diferença em volumes ou massa do ventrículo esquerdo, nem na FEVE. A média da massa de realce tardio foi de 2,3 ± 0,9 vs 1,9 ± 0,9 gramas (P=0,32) respectivamente entre os grupos DM2 e controles. Todos os valores de strain estavam reduzidos no grupo DM2, conforme demonstrado na FIGURA 1 (longitudinal: -15,5% ± 2,3% vs -17,5% ± 2,7%, P=0,02; circunferencial: -15,4% ± 2,6% vs -17,4% ± 3,0%, P=0,03; radial: 25,9% ± 5,9% vs 29,5% ± 7,2%, P=0,01). A análise multivariada ajustada para idade, sexo, índice de massa corpórea, hipertensão, Syntax Score, e massa de realce tardio não demonstrou diferenças nos resultados encontrados. CONCLUSÃO: Neste estudo, os pacientes com DM2 apresentaram redução dos parâmetros de deformação – strain longitudinal, circunferencial e radial global do ventrículo esquerdo, quando comparados aos controles. Tais achados sugerem disfunção miocárdica em pacientes diabéticos com DAC crônica multiarterial.