Fundamentos: A anemia pré-operatória é um fator de risco cardiovascular bastante estabelecido e influencia o grau de fragilidade dos cardiopatas isquêmicos encaminhados para a realização de cirurgia cardíaca. Além de ter prevalência elevada em cardiopatas, a anemia parece afetar de forma significativa os resultados da cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM). Objetivos: Avaliar o impacto da anemia pré-operatória nos resultados da CRM. Material e Método: Coorte prospectiva com 3.890 pacientes submetidos à CRM isolada entre 2010 e 2023. Após uma análise estatística preliminar, estratificada pelo diagnóstico de anemia pré-operatória, foi construído um modelo de regressão logística que resultou na obtenção de escores de propensão. Desta forma, foram obtidos 1.023 pares de pacientes similares entre si. A análise estatística envolveu ainda técnicas univariadas e outras modelações multivariadas. Resultados: após o pareamento, nenhuma das variáveis basais e operatórias apresentou diferença significativa, indicando um alto grau de homogeneidade entre os dois grupos de estudo. Desta forma, foi possível realizar a comparação de desfechos em um ambiente equânime para essas comparações. Neste cenário, nenhum dos desfechos perioperatórios estudados apresentou diferença significativa entre os grupos de anêmicos e não anêmicos. No entanto, quando colocada em um modelo multivariado, a hemoglobina foi identificada como preditor independente de risco para a ocorrência de óbito (OR=0,866; IC95% = 0,761 – 0,987; p 0,031). Por fim, foi possível verificar dois pontos de corte distintos, um para homens e um para mulheres, que resultam em aumento drástico do risco de óbito perioperatório. Para mulheres o ponto de corte foi de 9,0 g/dL e para homens 9,1 g/dL. Pacientes com níveis iguais ou inferiores a estes apresentaram taxa de mortalidade perioperatória igual a 9,0%. Por outro lado, pacientes com hemoglobina acima dos pontos de corte apresentaram taxa de mortalidade igual a 3,6% (p=0,002). Conclusão: Quando analisada por meio da categorização estabelecida pela OMS para classificar pacientes anêmicos, a anemia parece não afetar os resultados da CRM. No entanto, foi possível observar que a hemoglobina baixa foi um preditor independente de risco para a ocorrência de óbito perioperatório e que homens com hemoglobina pré-operatória igual ou menor a 9,1 g/dL e mulheres com hemoglobina igual ou menor a 9,0 g/dL apresentam risco de morte significativamente mais elevado do que pacientes sem anemia ou pacientes com anemia mais branda.