Introdução: O tabagismo é o principal fator de risco adquirido e modificável associado ao desenvolvimento das doenças cardiovasculares, possuindo características diferentes em relação aos gêneros, tanto nos gatilhos para fumar, quanto nas repercussões clínicas e na tomada de decisão para a cessação tabágica. Os malefícios se destacam nas mulheres, que apresentam um risco 25% maior de doença arterial coronariana associada ao cigarro, a despeito da maior prevalência de fumantes ainda ser entre os homens. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar características clínicas e de história tabágica entre mulheres fumantes em tratamento para cessação do tabagismo. Metodologia: Estudo de estratégia mista, de coorte transversal e acompanhamento longitudinal de fumantes com multimorbidades, entre 09/2021 a 02/2024. Os grupos foram submetidos a reuniões semanais com abordagem cognitivo comportamental, avaliação das condições biopsicossociais e instituição de medicação, quando necessário. Definições: Depressão: Patient Health Questionnaire-9 (PHQ-9) ≥ 9 pontos; Colesterol anormal > 200 mg/dL; Triglicérides anormal > 150 mg/dL; Pressão Arterial Sistólica (PAS) anormal > 130 mmHg; Circunferência do pescoço anormal > 40 cm. Resultados: 159 fumantes foram assistidos, referentes a 22 grupos consecutivos de tratamento. Desta amostra, 81,8% correspondiam a mulheres. Ao se comparar aspectos clínicos entre os gêneros, observou-se que entre as mulheres houve maior prevalência de gastrite (p<0,033), de depressão (p<0.007), de ansiedade (p<0,001), assim como maior anormalidade do colesterol (p <0,005), triglicérides (p <0,017) e tendência a maiores níveis de PAS (p<0,088). Quanto à história tabágica, houve uma tendência a menor taxa de cessação entre as mulheres na 4ª semana de tratamento (p<0,06) e maiores taxas de uso do celular como gatilho para o cigarro (p<0,004). Ocorrência de infarto agudo do miocárdio, uso de cocaína associada ao tabaco, além de maiores medidas da circunferência do pescoço, foram mais prevalentes entre os homens. Conclusões: A amostra estudada, composta prevalentemente por mulheres, apresentou diferenças significativas entre os gêneros. Pontua-se maiores alterações quanto a dislipidemia e alterações psicopatológicas entre as mulheres, que, associadas ao uso do tabaco, podem potencializar fenômenos aterotrombóticos. A menor taxa de cessação na 4ª semana de tratamento entre as mulheres pode ser inferida pela presença de ansiedade e depressão como barreiras para a cessação tabágica.