Introdução: A prevalência global de infarto agudo do miocárdio (IAM) com menos de 40 anos é de 0,06%; faz-se necessário considerar diagnósticos diferenciais de dor torácica. Pericardite aguda é uma complicação pós-IAM que se desenvolve de um a dois dias após o insulto agudo, com incidência de 12-20% nos pacientes não submetidos a terapia de reperfusão. Em sintomas típicos de pericardite, infecções virais devem ser consideradas. Estudos destacam genes e vias específicas que explicam uma correlação entre infecção viral, ativação plaquetária e IAM, pois a inflamação do quadro infeccioso pode influenciar a hemostasia e a ativação/disfunção endotelial. Relatamos um caso de sobreposição de sintomas em que avaliação multimodal fez-se necessária para elucidação diagnóstica.
Relato: Masculino, 29 anos, tabagista e portador de ansiedade generalizada, queixa de precordialgia há 2 dias, forte intensidade, intermitente, padrão-ventilatório dependente, associada a sintomas gripais. O eletrocardiograma (ECG) com área eletricamente inativa (Figura 1) não visualizada em ECG prévio e infra de PR sugestivo de pericardite. Ecocardiograma com hipocinesia inferolateral média e basal e anterolateral média e basal e mínimo derrame pericárdico (DP). Troponina: 992pg/mL (<5pg/mL), Proteína C Reativa:232mg/L(<5mg/L), Lipoproteina A>720mg/dL (<75mg/dL). Submetido a cineangiocoronariografia que evidenciou lesão de 50% em descendente anterior e coronária direita, ambas em terço médio, sem lesão obstrutiva significativa que justificasse o quadro. Pesquisa de patógenos respiratórios por PCR positivo para Rhinovirus/Enterovirus. Iniciado tratamento de miopericardite com controle adequado de quadro álgico. Após 2 dias, fez ressonância magnética cardíaca com realce tardio de padrão isquêmico transmural dos segmentos inferolaterais basal e médio do ventrículo esquerdo com edema e pequena lâmina de DP. Optado por nova avaliação anatômica através de angiotomografia de coronárias com escore de cálcio zero e oclusão do terceiro ramo marginal esquerdo com reperfusão distal (figura 2). O paciente recebeu tratamento clínico para IAM e pericardite aguda.
Conclusão: Apesar da baixa prevalência em jovens, deve-se investigar evento isquêmico agudo nos pacientes com queixa de precordialgia. A pericardite aguda pós-IAM é uma complicação que agrega morbidade e pode atrasar o diagnóstico da doença isquêmica visto a mudança no padrão da dor torácica. Com o aumento de infecções respiratórias e associação com sintomas cardiovasculares, a escolha de métodos diagnósticos multimodais pode ser fundamental.