Fundamento: A ablação septal com álcool (AAS) é uma abordagem alternativa à miectomia cirúrgica em pacientes sintomáticos com cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva (CMHO) e obstrução significativa da via de saída do ventrículo esquerdo (VSVE). Embora existam vários estudos avaliando a segurança e eficácia de pacientes ASA com CMHO, há escassez de dados avaliando esses pacientes no Brasil. Nossos objetivos foram avaliar a segurança e a eficácia do procedimento ASA em pacientes consecutivos com CMHO de vários centros no Brasil.
Métodos: Este foi um estudo retrospectivo multicêntrico de pacientes com CMHO sintomática submetidos a tratamento com AAS entre janeiro de 2014 e dezembro de 2023. A avaliação incluiu angina (pontuação da Canadian Cardiovascular Society [CCS]), dispneia (classe da New York Heart Association [NYHA]) e índices ecocardiográficos. antes e depois do procedimento ASA. O acompanhamento foi realizado anualmente;
Resultados: Quarenta e um pacientes (idade mediana de 66,4 anos; 73% do sexo feminino) foram submetidos ao procedimento ASA, sendo altamente sintomáticos, 78% em classe III/IV da NYHA, 51% com angina CCS III/IV (93% tinham classe III/IV da NYHA ou CCS III/IV). Em comparação com o valor basal, foi observada uma melhora significativa nos sintomas, de modo que apenas 26,9% e 17% dos pacientes estavam em classe NYHA ou CCS III/IV aos 30 dias e 12 meses de acompanhamento, respectivamente (p < 0,01). No início do estudo, o gradiente de pressão médio da VSVE foi de 88±23 mmHg e reduziu agudamente para 27±21 mmHg (p<0,001), enquanto a espessura do septo interventricular (SIV) reduziu de 19,3±3,2mm para 14,7±2,5mm (p<0,001). Em comparação com o grupo respondedor, os pacientes não respondedores apresentaram um gradiente de pressão da VSVE no início do estudo significativamente maior (113±40 vs. 73±23mmHg, p =0,04) e maior espessura do septo interventricular, embora esta tenha sido sem diferença estatística (16,5 ± 3,9mm vs15,3±2,2mm, respectivamente; p=0,48).
Conclusões: O procedimento ASA foi seguro e eficaz em pacientes selecionados com CMHO para melhorar os sintomas em pacientes com melhora significativa do desfecho clínico e redução significativa do gradiente de pressão da VSVE. Além disso, foi sugerido que pacientes com maior gradiente de pressão na VSVE no início do estudo (>100 mmhg) são provavelmente menos propensos a responder aos procedimentos de AAS.