Coexistência de mecanismos desencadeadores de angina em paciente lúpica com síndrome coronariana crônica: aterosclerose obstrutiva e vasoespasmo epicárdico.
MENDONÇA, C. M. M., PEREIRA, T. L. V., ZIOTTI, S. D. V., GROBE, S. F., MIOTO, B. M., DOURADO, L. O. C., GOWDAK, L. H. W., POPPI, N. T., CÉSAR, L. A. M.
INSTITUTO DO CORAÇÃO DO HCFMUSP - - SP - BRASIL
INTRODUÇÃO: A síndrome coronariana crônica (SCC) possui diferentes etiologias que podem estar sobrepostas na gênese da angina do peito. Aterosclerose obstrutiva é a mais comum delas, mas pode-se haver coexistência de vasoespasmo coronariano epicárdico e de disfunção da microcirculação coronária.
RELATO DO CASO: Paciente feminina, 41 anos, com antecedente de Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) que evoluiu com nefrite lúpica fulminante e progressão para doença renal crônica com necessidade de hemodiálise e falha de transplante renal prévio. Sabidamente portadora de SCC, com eventos agudos prévios e realização de angioplastia de tronco de coronária esquerda, artéria descendente anterior (ADA) e artéria circunflexa (ACx), já com documentação de reestenose intrastent em ACx tratada com angioplastia com balão. Procurou ambulatório com angina típica CCS 3, limitante, e documentação de isquemia transitória induzida por estresse farmacológico com dipiridamol em cintilografia miocárdica em paredes anterolateral médio e basal, e inferolateral médio e basal, além de curva de pressão arterial sistólica deprimida em exercício e dor anginosa tipo aperto no esforço com melhora na recuperação, sendo ajustada medicação antianginosa. Evoluiu com episódio anginoso em repouso, que a acordou durante a noite, com melhora parcial à administração de nitrato subligual. Procurou o pronto-atendimento, sendo encaminhada para cinecoronariografia. Durante procedimento, foi evidenciada nova reestenose intrastent em óstio de ACx, além de componente de vasoespasmo severo e difuso, que melhorou após administração de nitroglicerina intracoronária, o que demonstra a sobreposição de duas etiologias diferentes para o mecanismo anginoso. Esta definição contribuiu para mudança na terapia antianginosa da paciente, com substituição de betabloqueador por bloqueador dos canais de cálcio, com melhora sintomática.
DISCUSSÃO: A inflamação crônica secundária ao LES e à doença renal crônica pode se relacionar ao desenvolvimento de aterosclerose precoce e acelerada, como no caso da paciente relatada. Apesar de esta etiologia ter sido conectada aos eventos coronarianos agudos prévios, a ocorrência de vasoespasmo difuso documentado na coronariografia evidencia a sobreposição de mecanismos desencadeantes da angina do peito.
CONCLUSÃO: A identificação da etiologia da SCC é de suma importância, uma vez que a coexistência de diferentes mecanismos contribui diretamente para a otimização do tratamento medicamentoso e para a mudança da classe terapêutica antianginosa.