Introdução: A atual terapia medicamentosa tratamento da insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFER), que inclui medicamentos inibidores do sistema renina-angiotensina-aldosterona (iSRAA), pode associar-se à ocorrência de hipercalemia. Essa situação leva, frequentemente, à descontinuação ou redução de doses desses medicamentos, comprometendo o sucesso terapêutico. Novas medicações ligadoras de potássio podem facilitar esse manejo clínico, sendo relevante estimar o espaço de uso dessas drogas nos pacientes com ICFER ambulatoriais.
Objetivo: Avaliar a prevalência de hipercalemia e o perfil clínico desses pacientes em relação a pacientes normocalêmicos atendidos em um serviço especializado em ICFER de um hospital terciário público do interior do Estado de São Paulo.
Métodos: Trata-se de um estudo retrospectivo através da coleta de dados em prontuário eletrônico de pacientes com ICFER crônica, estáveis, ambulatoriais, atendidos entre janeiro de 2021 e janeiro de 2023. Utilizamos o Teste de Qui-quadrado para testar a associação entre as variáveis.
Resultados: A amostra foi composta por 174 pacientes, idade média de 56,2+18,3 anos, com predomínio do sexo masculino (59,8%), classe funcional da New York Heart Association I/II em 49,4% e III/IV em 50,6%, fração de ejeção do ventrículo esquerdo médio de 30+10,6%. Hipercalemia (K > 5,0 mEq/L) foi detectada em 27 pacientes (15,5%) - figura 1, sendo que 5 desses pacientes (18,5%) já haviam apresentado hipercalemia anteriormente, com redução de dose de iSRAA. A tabela 1 exibe análise dos parâmetros clínico-laboratoriais dos grupos com hipercalemia e com normocalemia. Observamos maior prevalência de doença renal crônica (p = 0,0186) e valores mais elevados de ureia (p = 0,025), creatinina (p = 0,0001) e redução do clearance de creatinina (p = 0,0020) nos pacientes com hipercalemia. Não observamos diferença no uso e doses das diferentes medicações entre os 2 grupos.
Conclusões: Numa população de pacientes com ICFER otimamente medicados, encontramos prevalência significativa (15,5%) de hipercalemia, sendo potenciais candidatos ao uso de droga ligadora de potássio para melhor manejo terapêutico. Houve associação significativa entre disfunção renal e hipercalemia. A ausência de significância estatística entre o uso dos iSRAA e hipercalemia pode estar relacionada a eventos de hipercalemia prévia e redução de dose otimizada para controle dos níveis séricos de potássio.
Histograma Distribuição de pacientes por faixas de potássio sérico: