Objetivo: Indivíduos cronicamente expostos a grandes altitudes (>1500m) apresentam maior prevalência de hipertensão arterial (HA), porém permanece incerto se variações de altitude influenciam os fenótipos da pressão arterial (PA) em países majoritariamente com baixa altitude, como o Brasil. Este estudo avaliou a relação da altitude com normotensão (NT), HA do avental branco (HAB), HA mascarada (HM) e HA sustentada (HS) em uma grande amostra brasileira multicêntrica que realizou medida de PA no consultório (PAC) e monitoração residencial da PA (MRPA) em áreas com altitude <1500m.
Desenho e métodos: Este estudo transversal avaliou 68.200 indivíduos únicos [39% homens, idade=57,3±15,6 anos, IMC=28,7±5,3 kg/m2, PAC=131,3±19,6/83,9±11,7 mmHg, MRPA=124,7±15,6/79,2±9,6 mmHg, 51% usando medicamentos anti-hipertensivos (AH)] residentes em cidades das 5 regiões brasileiras (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul) cujas altitudes variaram de 0 a 1172m e que realizaram medidas de PAC e MRPA no período de 2018 a 2022. Dados diários de temperatura ambiental, velocidade do vento, pressão atmosférica e umidade foram também coletados. Os fenótipos da PA foram definidos segundo as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, como: NT (PAC<140/90mmHg e MRPA<130/80mmHg), HAB (PAC≥140/90mmHg e MRPA<130/80mmHg), HM (PAC<140/90mmHg e MRPA≥130/80mmHg) e HS (PAC≥140/90mmHg e MRPA≥130/80mmHg). As análises de regressão foram ajustadas por idade, sexo, IMC, tempo do calendário, estação do ano, região, uso de AH, temperatura, velocidade do vento, pressão atmosférica e umidade.
Resultados: A análise de regressão linear ajustada mostrou uma relação direta da altitude (em m) com a PAC sistólica (beta=0,007±0,001; p<0,001), MRPA sistólica (beta=0,006±0,001; p<0,001), PAC diastólica (beta=0,010±0,001; p<0,001) e MRPA diastólica (beta=0,008±0,001; p<0,001) (em mmHg) (Figura). A análise de regressão logística ajustada mostrou que cada aumento de 100m na altitude foi associado a um risco 6,7% [95%IC=3,1–10,5%; p<0,001] maior de HS e 7,0% [95%IC=3,7–10,3%; p<0,001] menor de NT. Por outro lado, a altitude não se associou com HAB e HM.
Conclusões: Maiores altitudes se associam com maior risco de HS e menor risco de NT mesmo em áreas de baixa altitude (<1500m). Esses achados sugerem que a altitude pode influenciar a prevalência de HA no Brasil.