INTRODUÇÃO: Dados de emergência são essenciais para planejar recursos em hospitais, mas são limitados na América Latina, especialmente na prática privada. A pandemia de COVID-19 mudou a epidemiologia global. No Brasil, o primeiro caso, em fevereiro de 2020, alterou o sistema de saúde e uma análise pré e pós-pandêmica é crucial para entender o perfil dos pacientes que procuram serviços de emergência privados por demandas cardiovasculares bem como as mudanças relacionadas com a pandemia.
MÉTODOS: Realizamos um estudo retrospectivo com registros médicos de 12 hospitais privados brasileiros. Coletamos dados ao longo de 212 semanas epidemiológicas, sendo 106 antes e 106 após o primeiro caso de COVID-19 no Brasil (26 de fevereiro de 2020). Incluímos pacientes com mais de 14 anos que procuraram atendimento de emergência nesse período, categorizando-os em cem códigos CID e comparando as frequências com testes qui-quadrado (p < 0,05). Além das causas principais de atendimento no geral, selecionamos as 3 principais causas de atendimento cardiovascular.
RESULTADOS: Um total de 1.660.031 atendimentos ocorreram durante o período analisado. Observamos uma diminuição de 5,2% no uso dos departamentos de emergência durante o período da pandemia (p < 0,01). Os três principais CID pré-COVID-19 (145.627 pacientes) não estavam diretamente relacionados entre si e incluíam gastroenterite, lombalgia e dor pélvica abdominal. Por outro lado, durante o período de COVID-19 (282.226 pacientes), os três principais CID estavam diretamente relacionados às infecções por coronavírus e incluíam: 1) COVID-19, vírus não identificado; 2) COVID-19, vírus identificado; e 3) infecção por coronavírus, local não especificado. Dentre as principais causas de atendimento cardiovascular (tabela 1), dor torácica representou a causa mais comum e totalizou 2,16% dos atendimentos pré e 1,92% dos atendimentos pós início da pandemia (p < 0,01).
CONCLUSÃO: Houve uma mudança significativa nas principais causas de atendimento em emergência pré e durante a pandemia. em serviços de urgência de hospitais privados. As demandas cardiovasculares foram semelhantes nas duas fases de análise, entretanto, houve redução no atendimento de causas cardiovasculares durante a pandemia. Os resultados deste estudo poderão melhorar ajudar a direcionar prioridades na gestão das emergências do Brasil tanto em condições estáveis como em situações de mudanças epidemiológicas.