Mulher de 66 anos, com antecedentes de HAS, DM2, DLP e neoplasia de mama (mastectomia, quimioterapia e radioterapia), deu entrada na Emergência com dor torácica e rebaixamento do nível de consciência há 1 hora. Feito diagnóstico de IAM com supra do segmento ST ínfero-latero-dorsal Killip IV. Submetida a intubação orotraqueal, iniciado drogas vasoativas e encaminhada para cineangiocoronariografia (CATE). Passado balão intra-aórtico e CATE mostrou oclusão aguda da artéria circunflexa (Cx) e sub-oclusão de artérias descendente anterior (DA) e coronária direita (CD). Realizada angioplastia primária com 2 stents farmacológicos (DES) em Cx, sendo optado por abordar as demais lesões durante a internação. No D1 da internação, ecocardiograma (ECO) com fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FE) de 38%, acinesia lateral e insuficiência mitral (IMi) importante. No D4, paciente foi extubada e em desmame de drogas vasoativas. ECO com FE 47% e IMi discreta (tracionamento cúspide posterior). No D6, evoluiu com acidente vascular cerebral isquêmico e no D7 apresentou quadro de hemorragia digestiva baixa, sendo realizado colonoscopia e esclerose de úlcera de reto. No D17, evoluiu com nova dor torácica, seguida de choque cardiogênico. ECO mostrou FE 30% e IMi importante. Encaminhada a CATE, passado balão intra-aórtico, observado stents pérvios e realizada angioplastia de DA com 2 DES e de CD com 3 DES. No D18, ECO mostrou FE 50%, acinesia ínfero-lateral e IMi importante. No D33, apesar da revascularização completa e tratamento clínico otimizado, paciente permanecia congesta e com inúmeras falhas de desmame de dobutamina. Avaliada pelo Heart Team que, diante de uma paciente com STS Score de 9,2% de mortalidade, radioterapia prévia de tórax, angioplastia coronariana e AVCi recentes, indicou o tratamento percutâneo da valva mitral (MitraClip). O ECO transesofágico 3D pré-procedimento evidenciou anatomia favorável ao reparo valvar mitral borda-a-borda transcateter (TEER). Durante o procedimento, utilizado um MitraClip XTW, com redução da insuficiência mitral para discreta/moderada e gradiente médio de 5 mmHg. No D51, houve desmame de dobutamina e nitroglicerina (D3 pós Mitraclip). No D57, ECO com FE 50%, IMi discreta a moderada, recebendo alta hospitalar (D9 pós Mitraclip). No seguimento de 3 meses, paciente assintomática, ECO com FE 51%, IMi discreta a moderada. Esse caso reforça o TEER como uma terapia factível em pacientes críticos com insuficiência mitral secundária a infarto agudo do miocárdio recente, com falha ao tratamento clínico otimizado e com alto risco cirúrgico.