Introdução: A cardiomiopatia crônica da doença de Chagas (CCDC) é uma das principais etiologias da insuficiência cardíaca de fração de ejeção reduzida (ICFER) no Brasil. O objetivo desse estudo é avaliar a sobrevida da CCDC em um centro de referência.
Métodos: Trabalho retrospectivo, observacional e unicêntrico que avaliou o prontuário de 8072 pacientes com ICFER, entre janeiro de 2006 e setembro de 2021. Os pacientes foram divididos em dois grupos: 1084 (13,4%) apresentavam CCDC e 6988 (86,6%) cardiomiopatia não-chagásica (NCCDC). O desfecho avaliado foi mortalidade por todas as causas ou transplante cardíaco.
Análise estatística: Para dados basais, utilizou-se os testes de Mann-Whitney e Kruskal-Wallis para variáveis numéricas e o teste Qui-quadrado para as categóricas. Foram elaborados gráficos de sobrevida cumulativa (Kaplan-Meier) para ilustrar a sobrevida livre de eventos por etiologia da ICFER. Valores de p < 0,05 foram considerados significativos.
Resultados: Entre os NCCDC, 2748 (34,0%) possuíam etiologia isquêmica, 1504 (18,6%) idiopática, 1015 (12,6%) hipertensiva e 782 (9,7%) valva. Ocorreram 2348 (33,6%) desfechos no grupo NCCDC e 567 (52,7%) no grupo CCDC. Os pacientes com CCDC possuíam menor mediana de idade [65 (57 – 73) anos versus 68 (59 – 77) anos; p <0,001] e de FEVE [30,0 (25,0 – 35,0)% versus 30,0 (25,0 – 35,0)% ; p<0,001] do que os NCCDC, assim como menor percentual de homens [615 (56,7%) versus 4568 (65,4%); p <0,001) e de comorbidades [920 (84,8%) versus 6589 (94,3%); p<0,001]. Além disso, o grupo CCDC possuía maior prevalência de pacientes em classe funcional III e IV [316 (29,1%) versus 1293 (18,5%); p<0,001] e em uso de terapia tripla [604 (55,7%) versus 3096 (44,3%); p<0,001]. A mediana de sobrevida geral foi de 8,917 (5,667 – 12,083) anos, sendo menor no grupo CCDC quando comparado ao NCCDC [7,083 (4,354 – 10,333) anos versus 9,167 (5,917 – 12,333) anos; p<0,001]. O grupo CCDC apresentou uma sobrevivência livre de eventos menor do que as demais etiologias para ICFER (10,407 anos; IC 95% 9,080 – 9,735 versus 11,711 anos; IC 95% 11,596 – 11,826; p < 0,001).
Conclusões: A CCDC apresenta um pior prognóstico em comparação com a NCCDC, apesar de serem mais jovens e terem uma taxa maior de tratamento triplo. O estudo ressalta a complexidade da CCDC, evidenciado por uma maior taxa de mortalidade e transplante cardíaco ao longo de 15 anos.