Fundamentos: Atingir as metas de controle de colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL-c), preconizadas pelas diretrizes atuais, é crucial para a redução do risco cardiovascular residual. Para os pacientes de muito alto risco, como os que sofreram Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), é recomendado que o LDL-c deva ser < 50 mg/dL, ou ter redução de 50% do valor basal. Contudo, a proporção de pacientes que atingem essas metas não é bem conhecida. Objetivos: Analisar o perfil clínico e a evolução do perfil lipídico, da internação por IAM até a consulta de retorno, bem como a terapia empregada e o alcance das metas de LDL-c. Métodos: Conduziu-se estudo descritivo de prontuários eletrônicos de pacientes em um hospital público de São Paulo, entre junho de 2021 e março de 2022. Foram incluídos pacientes com IAM, de ambos os sexos e que tivessem procurado o hospital como primeiro atendimento. A análise estatística utilizada foi o método Chi-quadrado para avaliar eventuais associações entre as variáveis e o teste T-Student para amostras pareadas, para avaliar a porcentagem de redução dos níveis de LDL-c. Resultados: Foram incluídos 161 pacientes dos 872 prontuários analisados, com a maioria (61%) apresentando IAM com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST). Em 24% dos casos, foi identificado infarto prévio e desses, metade não faziam o uso regular de estatina. Foi possível correlacionar o não uso prévio de estatina ao evento de maior gravidade, IAMCSST (p < 0,05). Em 58% dos casos, que não referiam diagnóstico prévio de diabetes mellitus, houve registro de hiperglicemia durante a internação. Dos 31% que tiveram a dosagem de colesterol no retorno, em média, após 87 dias da internação, somente 8% desses, alcançaram a meta absoluta de LDL-c < 50 mg/dL (Fig. 1). Apenas 9% dos pacientes tiveram seus níveis de colesterol avaliados tanto na internação quanto no retorno, e 26,7% desses atingiram 50% de redução do LDL-c. A redução média das concentrações de LDL-c foi de 25% (p < 0,05). Na alta hospitalar, 12%, 17% e 13% dos pacientes não receberam prescrição de ácido acetilsalicílico, clopidogrel e estatina, respectivamente. Conclusão: Diante da gravidade dos casos analisados, a estratificação do risco cardiovascular revelou-se ineficaz, a terapêutica não foi otimizada e o alcance de metas de LDL-c foi insatisfatório. A não utilização de estatinas estaria associada a desfecho cardiovascular mais grave.