Introdução
A Tetralogia de Fallot é a forma mais comum de cardiopatia congênita cianótica, tendo
sido descrita pela primeira vez em 1888. A cirurgia de correção é o tratamento de
escolha na maioria dos casos e o momento da intervenção depende do grau de
obstrução da saída do ventrículo direito, geralmente realizada de forma eletiva no
primeiro ano de vida. A sobrevida após a quinta década de vida sem o tratamento
cirúrgico é rara, com poucos casos relatados na literatura.
Relato de caso
Paciente de 52 anos, sexo feminino, portadora de Tetralogia de Fallot não corrigida,
refere tosse seca, cefaleia frontal, odinofagia e episódios de febre não aferida com
evolução de 5 dias. Desde a infância, queixa-se de cansaço e dispneia, porém
progressivamente piores no último mês. Ao exame, observa-se pletora facial, cianose
central e periférica e baqueteamento digital. Ao exame apresentava sopro
mesossistólico em borda esternal esquerda, irradiado para foco pulmonar e região
infraclavicular esquerda, com turgência jugular à 45 graus e refluxo hepatojugular,
além de edema de membros inferiores bilateralmente. Eletrocardiograma
apresentando ritmo sinusal e baixa voltagem. Ecocardiograma transtorácico constatou
tetralogia de fallot não corrigida com leve acavalgamento de aorta, comunicação
interventricular subaórtica com shunt esquerdo-direito, hipertrofia de ventrículo
direito e estenose infundibular pulmonar grave. Pequeno shunt esquerdo-direito na
região da membrana do forame oval, podendo se tratar de forame oval patente ou
comunicação interatrial. Leve espessamento do pericárdio relacionado à parede
inferolateral do ventrículo esquerdo também foi evidenciado, sem sinais de constrição.
A tomografia de tórax demonstrou derrame pericárdico moderado. Iniciado
tratamento com diureticoterapia venosa, anti-inflamatório e colchicina, apresentando
resposta satisfatória, sendo assim estabelecido o diagnóstico presumido de derrame
pericárdico de etiologia viral.
Discussão
A cirurgia para Tetralogia de Fallot não corrigida em pacientes adultos está associada
ao aumento da mortalidade e é indicada apenas em pacientes sintomáticos. Os
mecanismos que explicam a sobrevida prolongada podem ser atribuídos a estenose
pulmonar leve que progride ou adaptações que melhoram o shunt direita-esquerda,
como formação de colaterais sistêmico-pulmonares, persistência do canal arterial ou
hipertensão sistêmica.