Introdução: Medicamentos antiplaquetários são frequentemente usados para prevenir doenças tromboembólicas, mas quando combinados com regime de dupla antiagregação plaquetária, podem causar complicações hemorrágicas tardias após procedimentos odontológicos. Caso clínico: Mulher, 26 anos, sob internação hospitalar por piora da função renal, queixou-se de “dor de dente persistente por 3 dias”, sendo solicitada avaliação odontológica. Relatou indicação prévia de tratamento endodôntico no dente afetado e sintomas persistentes com analgésicos. Histórico de Doença Renal Crônica em hemodiálise, Diabetes Mellitus tipo 1, Hipertensão Arterial Sistêmica e tabagismo. Ao exame clínico odontológico observou-se grande destruição dentária devido à lesão cariosa no dente 48 com dor ao toque e percussão vertical positiva, ausência de edema, eritema, secreção purulenta e fístula. No exame de imagem, lesão radiolúcida na região periapical do dente citado, destruição coronária, compatível com abscesso periapical sem fístula, optando-se pela extração dentária. A extração transcorreu sem complicações, empregando-se esponja de fibrina como método hemostático local, prescrição medicamentosa e cuidados pós-operatórios (PO). No 1º PO, região operada com bom aspecto, sem edema, sem sangramento ativo e sutura em posição. No 7º PO, foi solicitado nova avaliação odontológica pela equipe médica pois a paciente queixou-se de “hematoma facial, dor e sangramento intraoral” após iniciar uso de Ácido Acetil Salicílico, Clopidogrel e Enoxaparina devido à dor precordial intradialítica, dispneia e dessaturação. Ao exame físico extraoral, observou-se edema na região submandibular direita e ao exame intraoral, presença de coágulo malformado no local da exodontia, suturas posicionadas e sangramento ativo em pequena quantidade. A conduta instituída foi com lavagens bucais diárias com ácido tranexâmico diluído em soro fisiológico e possibilidade de reabordagem cirúrgica após avaliação cardiológica. Devido à melhora significativa após um dia da conduta, controlando sangramento e regressão do coágulo, edema e dor, a reabordagem foi cancelada. Após 15 dias, observou-se cicatrização completa, ausência de sangramento ou infecção e os pontos foram removidos. A paciente recebeu orientações sobre a continuidade dos cuidados bucais e alta da equipe odontológica. Conclusão: O caso destaca a importância da interação entre cardiologia e odontologia no manejo das complicações hemorrágicas após procedimento odontológico invasivo, ressaltando o uso de métodos hemostáticos locais para prevenção e controle.