INTRODUÇÃO
O Lúpus eritematoso sistêmico (LES) é caracterizado pela atividade aberrante do sistema imunológico, com incidência de 0,3 a 31,5 casos a cada 100.000 habitantes/ano. Dentre as manifestações cardiovasculares, descreve-se a endocardite de Libman-Sacks (ELS) como condição rara, com prevalência entre 0,9% e 1,6%.
CASO CLÍNICO
Paciente de 29 anos, deu entrada no pronto socorro por quadro de dispneia e dor torácica ventilatório dependente, com piora ao decúbito dorsal. Referia gestação no mesmo ano, com desenvolvimento de dispneia e disfunção ventricular de etiologia idiopática, além de parto cesariano por pré-eclâmpsia e permanência em unidade de terapia intensiva por 15 dias após o parto. O ecocardiograma transtorácico externo mostrava fração de ejeção (FEVE) 46%, com hipocinesia difusa. Os exames evidenciaram anemia normocítica e normocrômica, com d-dímero 13.528 ug/L (VR < 500 ug/L). A antgiotomografia pulmonar descartou TEP. O ecocardiograma transtorácico realizado na instituição evidenciou FEVE 58% e a valva mitral com cúspide posterior discretamente retraída, presença de hiperfluxo devido a refluxo mitral importante e imagem ecogênica aderida à face atrial, sugestivo de ELS. O Ecocardiograma transesofágico (ECOTE) destacou o aumento importante do átrio esquerdo (volume indexado 54ml/m2. VR ≤ 34 ml/m2) devido ao refluxo mitral importante. A ressonância cardíaca evidenciou dilatação de câmaras esquerdas, com função sistólica biventricular preservada, insuficiência mitral, edema e realce pericárdicos, mas sem fibrose, compatível com pericardite. Nos exames laboratoriais, destacava-se BNP 501 pg/mL (VR ≤ 125 pg/mL); C3 82,6 mg/dL (VR 90-180 mg/dL); CH50 33,42 mg/dL (VR 42 a 95 mg/dL); FAN reagente 1/1280 (VR ≤ 1/80), com padrão nuclear homogêneo; Anti-DNA Positivo. Com o diagnóstico de LES e ELS, o tratamento com corticoterapia e anticoagulação plena com heparina fora prontamente instaurado. Apresentou melhora substancial da dispneia, com alta hospitalar após 15 dias de internamento.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
A ELS é infrequente, porém com evolução catastrófica pelo aumentado risco de fenômenos embólicos e lesões valvulares, principalmente em valva mitral. O ecocardiograma transtorácico é usualmente o primeiro exame realizado e detecta em torno de 50% das alterações relacionadas à ELS, inferior aos 70% detectado pelo ECOTE, considerado padrão ouro para diagnóstico. A ressonância cardíaca pode sugerir o diagnóstico através da caracterização tecidual dos tipos de massas encontradas no coração, mas requer alta suspeição clínica.