Introdução: A espessura íntima-média (EIM) carotídea e a hipertrofia ventricular esquerda (HVE) são preditores de pior prognóstico em pacientes renais crônicos dialíticos. Embora a EIM seja considerada uma medida de aterosclerose, ela pode ser influenciada por aumentos tanto da espessura da camada íntima (EI), uma medida mais específica de aterosclerose, quanto da camada média (EM), composta por células musculares lisas. Estudos prévios demonstram que a EIM se associa com HVE em pacientes dialíticos, contudo não se sabe qual subcamada da parede carotídea medeia esta associação.
Métodos: Este estudo transversal avaliou 88 pacientes renais crônicos em programa de hemodiálise que realizaram 1) ultrassonografia carotídea com captação de imagens de alta resolução para avaliação de EI, EM e EIM; e 2) ecocardiografia para avaliação do índice de massa ventricular esquerda (IMVE) e HVE (IMVE>95g/m2 em mulheres e >115g/m2 em homens). Foi considerado significativo um valor de p<0,05.
Resultados: Os pacientes tinham idade=56,9±15,3 anos, 59% homens, 90% hipertensos, 50% diabéticos, 7% fumantes, tempo de diálise=13 [2,35] meses, EI=0,422±0,126 mm, EM=0,402±0,087 mm, EIM=0,824±0,178, IMVE=105±36 g/m2 e 48% com HVE. Análises de regressão linear e logística ajustadas por idade, sexo, hipertensão, diabetes, índice de massa corpórea, tabagismo, pressão arterial sistólica, tempo de diálise, medicações anti-hipertensivas e estatinas mostraram que o IMVE e a HVE se associaram diretamente com EI (p<0,001 para ambos), EIM (p=0,021 e p=0,003, respectivamente), mas não com EM (p=0,74 e p=0,56, respectivamente) (Figura).
Conclusões: A EI, uma medida mais específica de aterosclerose, foi superior à EM e EIM em identificar a presença de HVE em pacientes dialíticos. Estes dados podem contribuir para justificar o maior risco cardiovascular associado à HVE em dialíticos.