Introdução: A hipercolesterolemia familiar (HF) é uma doença de herança autossômica codominante caracterizada por elevação do LDL-C. A forma homozigótica é rara, mas pode cursar com evento cardiovascular muito precoce.
Relato de caso: Homem branco, detectou elevação de colesterol aos 9 anos após exérese de xantoma em joelho. Nessa idade iniciou tratamento com atorvastatina. Possuía xantomas interdigitais em mãos, joelhos e em tendão de Aquiles. História familiar de pai, mãe e irmã com HF. O teste genético evidenciou duas variantes genéticas defeituosas em posição trans no gene LDLR. Otimizado tratamento com aumento da atorvastatina, introdução de ezetimiba e inibidor de PCSK9. Evoluiu com progressão da aterosclerose (vide tabela). Apresentou angina instável em fevereiro/2024, submetido a cineangiocoronariografia que demonstrou padrão biarterial, com lesões graves em artérias descendente anterior (DA) e em coronária direita (CD). Realizou angioplastia com stents farmacológicos com sucesso.
Discussão: HF homozigótica é uma condição de altíssimo risco cardiovascular com potencial ocorrência de doença aterosclerótica, mesmo na infância/adolescência. O inibidor de PCSK9 apresenta eficácia variável na HF homozigótica a depender do tipo de variante genética. Nosso paciente por apresentar variante LDLR do tipo defeituosa em ambos os alelos obteve redução significativa do LDL-C com a terapia. Tal eficácia não é observada nos homozigotos com variantes nulas. Todavia, a despeito da terapia com estatina, ezetimiba e Alirocumab, o paciente permanece com LDL-C elevado e cursou com manifestação de evento coronário. O caso ilustra a dificuldade no manejo clínico destes pacientes e reitera a necessidade de incorporação de outras terapias hipolipemiantes (como evinacumab, lomitapide ou LDL aférese) para tentar alterar a história natural desta doença. Conclusão: A HF homozigótica cursa com doença aterosclerótica acelerada e necessita de agressiva terapia hipolipemiante.