Introdução: O bloqueio de ramo mascarado é caracterizado no eletrocardiograma por um bloqueio de ramo direito (BRD) evidente no plano horizontal, associado ao bloqueio divisional anterossuperior (BDAS) e ondas S mínimas ou ausentes na derivação DI, o que dá ao plano frontal um padrão semelhante ao bloqueio de ramo esquerdo (BRE) com eixo de QRS desviado para esquerda. Por outro lado, o eletrocardiograma no bloqueio focal ou periférico do ventrículo esquerdo (VE) evidencia um QRS com retardo final e duração ≥ 120 ms, porém sem critérios de BRE ou BRD.
Relato de caso: Paciente masculino, 76 anos, com histórico de hipertensão, diabetes mellitus do tipo 2, dislipidemia, ex-tabagista, portador de insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida realizou cateterismo cardíaco em dezembro de 2023, por doença arterial coronariana (DAC) estável, relevando: oclusão no terço médio da coronária direita, recebendo circulação colateral, 2º ramo diagonal com lesão de 80% no terço proximal e 1º ramo marginal com lesão de 70% no óstio de seu sub-ramo inferior, além de diversas lesões <50%. Devido a doença difusa e vasos de fino calibre foi optado por otimização do tratamento clínico. Paciente interna após 2 meses por dor torácica sendo solicitado cintilografia miocárdica com prova farmacológica (dipiridamol). O paciente apresentava o seguinte eletrocardiograma em repouso: Ritmo sinusal, bloqueio focal do VE + BDAS, presença de onda R alta em V2 - sugestivo de área inativa lateral. (Figura 1)
Durante infusão de dipiridamol, paciente apresentou alteração do eletrocardiograma evoluindo para padrão de bloqueio de ramo mascado. (figura 2)
E retornando ao seu eletrocardiograma de base após o término da infusão. A cintilografia evidenciou queda da fração de ejeção de 27% basal para 21% no estresse, ausência de sinais de isquemia do miocárdio e hipocaptação persiste de grande extensão nas paredes inferior, inferosseptal e inferolateral do ventrículo esquerdo.
Conclusão: O bloqueio focal do VE e o bloqueio mascarado estão relacionados a fibrose ou disfunção miocárdica. A presença desses bloqueios se traduz em prognóstico desfavorável, estando associada a um maior risco de morte por doença cardiovascular e a um aumento substancial do risco de arritmias. Nesse caso podemos caracterizar um paciente com DAC estabelecida e grande área de fibrose, e a alteração no eletrocardiograma encontrada reforça a gravidade do quadro e implica pior prognóstico clínico.