Introdução
A angina refratária é uma condição clínica crônica limitante decorrente de isquemia miocárdica devido à doença arterial coronariana obstrutiva ou não obstrutiva, apesar do tratamento clínico otimizado, em indivíduos não elegíveis à revascularização miocárdica percutânea ou cirúrgica. O tratamento da angina envolve a combinação de drogas antianginosas e o adequado controle de condições associadas, incluindo a obesidade. Apesar de recomendada nas diretrizes vigentes, a perda de peso em pacientes obesos e com sobrepeso, sua efetividade no controle da angina foi avaliada em poucos estudos realizados até o momento.
Relato de Caso
Paciente masculino, 60 anos, com história de hipertensão arterial sistêmica, asma, diabetes, obesidade grau III, síndrome da apneia obstrutiva do sono grave em uso de CPAP e doença arterial coronariana submetido à cirurgia de revascularização miocárdica incompleta em 2012 devido ao acometimento distal do leito nativo. Desde então, mantinha angina limitante (CCS 3), com 30 episódios de angina e consumo de 15 comprimidos de nitrato sublingual mensais, a despeito do uso de atenolol 50mg/dia, anlodipino 10mg/dia, mononitrato de isossorbida 120mg/dia, trimetazidina 70mg/dia e ivabradina 15mg/dia. Ecocardiograma sem alterações e coronariografia com enxertos pérvios.
Em 2022 foi submetido à cirurgia bariátrica. Apresentou perda de 30% do peso corporal após 1 ano, além da melhora importante do perfil metabólico (redução do LDL de 105 para 67 e HBA1C de 7,5 para 6,1), permitindo a suspensão dos antidiabéticos orais e do CPAP. Atualmente, apresenta episódios esporádicos de angina (CCS 1) com consumo de 2 a 3 nitratos sublinguais ao mês. Tendo em vista a melhora da angina, foram suspensos nitrato, trimetazidina e ivabradina, mantendo-se clinicamente estável desde então.
Discussão
Relatamos o caso de um paciente obeso, que mantinha sintomas anginosos limitantes e prejuízo da qualidade de vida, apesar do tratamento medicamentoso otimizado, que apresentou importante melhora sintomática após perda ponderal significativa, possibilitando o adequado controle metabólico e de condições associadas, como apneia do sono. Embora a perda ponderal tenha ocorrido secundariamente à cirurgia bariátrica, é possível que outras estratégias, como o uso de agonistas de GLP1, associados à mudança no estilo de vida, levem a resultados benéficos sustentados associados à proteção cardiovascular.
Conclusão
A perda ponderal deve ser encorajada em pacientes com angina refratária para melhor controle de fatores de risco e possivelmente, melhora da angina.